Texto publicado na revista MAIS / AP (Clube Alto dos Pinheiros) nº141/ano13/ nº141
Há muitos anos uma jornalista, do então existente “Jornal da
Tarde”, elaborando um artigo sobre reformas de imóveis, me procurou e fez a
seguinte pergunta: qual o custo para fazer uma reforma numa casa ou
apartamento, é barato ou é caro?
Minha resposta foi no sentido de que reformas somente
deveriam ter início com projeto arquitetônico detalhado, com indicação da área
de atuação, de acabamentos e definições construtivas e sem alterações no
desenvolvimento das obras. Nessa condição é perfeitamente possível controlar o
custo final da obra. Entretanto, nem sempre isso acontece, principalmente por
envolver sonhos que se colocam com o desenvolvimento da obra, aspectos incomensuráveis
na definição do projeto.
Nem sempre as pessoas têm clareza do que querem, muitas vezes
seus sonhos são bem maiores do que seu bolso, um desafio para o arquiteto.
Nesse processo, perguntar a capacidade de desembolso do cliente - pergunta nem
sempre bem-vinda - é uma das formas que temos para orientar o projeto,
principalmente projetos de reforma, pois as variáveis são muitas. O custo de
uma reforma se altera exponencialmente nos pequenos detalhes, os custos de
pisos são muito diferentes conforme sua qualidade ou material, os custos de
metais de banheiro e cozinha também variam muito. Embora esses aspectos tenham
sido discutidos no desenvolvimento do projeto, às vezes, no processo de
definição da compra de acabamentos o/a proprietário/a se encanta com outros materiais,
eventualmente, um pouco mais caros. Embora sejam alertados no sentido que essas
alterações extrapolam o orçamento inicial, é recorrente a frase: “já que
que estamos gastando tanto, essa pequena mudança não irá alterar muito o
valor inicial previsto”. No final de
pequena em pequena alteração o custo da obra é totalmente descontrolado, a obra
resulta mais cara.
Definido o projeto e iniciada a obra, é quando o problema do
“já que” se coloca para a manutenção do orçamento inicial. A jornalista
não entendeu ao que eu me referia, embora tenha citado diferentes momentos no
processo de compra dos materiais. Era a primeira vez que ouvia falar do já
que. Apesar de tudo, não a convenci.
Posteriormente, quando me trouxe o texto final para minha
aprovação, me contou uma situação que reafirmou o que eu havia dito. Saindo do
meu escritório, passou por uma casa em reforma onde uma senhora conversava com
o empreiteiro discutindo o andamento obra. Ela parou o carro. Era uma
oportunidade para enriquecer seu artigo ou conseguir uma outra versão.
Perguntou então se o custo da reforma estava sendo o que fora planejado. A
senhora respondeu que a reforma, inicialmente, seria somente recuperar o
beiral, mas já que os operários estavam lá, tinta resolvido reformar os
banheiros, e, já que estava mexendo nos banheiros, por que não rever as
instalações elétricas e hidráulicas. Dessa forma, a questão por mim colocada
foi claramente demonstrada na prática.
A matéria provocou muito interesse, possibilitando uma
publicação de página inteira do Jornal da Tarde, com o título JÁ QUE.