Projeto de Arquitetura: um trabalho coletivo
Texto publicado na Revista Mais/AP nº145 (Clube Alto dos Pinheiros)
Trabalho em
equipe é um dos aspectos que caracteriza a profissão do arquiteto. A produção
de um projeto arquitetônico não é resultado de inspirações particulares e
autoritárias, percepção muitas vezes encontrada na sociedade. O processo de
elaboração do projeto nasce de uma demanda, que pode ser privada ou pública,
corporativa ou familiar. Em todos eles a presença e participação de vários
profissionais.
O primeiro
profissional a ser envolvido no processo é o arquiteto que, junto com seu
cliente, discute e compreende a demanda.
Assim,
define a obra a ser realizada, momento no qual outros profissionais se agregam
ao processo constituindo uma equipe pluridisciplinar, especialista em outras
áreas que envolvem a produção da obra tais como, engenheiros de estruturas,
instalações elétricas, hidráulicas, ar-condicionado, luminotécnica além de
outros, conforme a complexidade do que será construído.
A produção
de um projeto arquitetônico é a junção de diferentes saberes e atores. Os
aspectos mais complexos, por serem subjetivos, são os anseios ou sonhos dos
clientes.
Somente a
conjunção de todas essas variáveis resultará numa obra de seu tempo, de acordo
com as possibilidades geográficas e tecnológicas locais. Para um bom resultado
é necessária a interação harmônica e respeitosa entre todos os envolvidos.
Pela minha
experiência profissional, considero que uma das variáveis mais importante é a
harmonia entre arquiteto e cliente, responsáveis por darem início e
continuidade ao processo. No meio profissional existem diferentes posturas a
respeito, alguns afirmam que o principal papel da arquitetura é materializar o
sonho do cliente, o que reduz o papel da arquitetura e do profissional
envolvido. Em contrapartida, Frank Gehry nos ajuda a entender essa situação
quando afirma “Não sei porque as pessoas contratam arquitetos e depois dizem à
eles o que fazer”.
Neste
texto, vou discutir sonhos e anseios do cliente. Muitas vezes me deparei com
esses aspectos, alguns consegui entender outros nem tanto.
Numa
oportunidade fui procurado para fazer a sede de uma fazenda. Tratava-se de um
cliente que já conhecia meu trabalho, o que considerei existir um acordo
inicial sobre os resultados a serem obtidos. Entretanto depois dos acertos
iniciais, me deparei com a seguinte frase da proprietária - “eu quero uma casa
colonial”. O que fazer? Fazer um projeto dito “colonial” estava completamente
fora de minhas perspectivas. Em primeiro lugar, procurei entender o que minha
cliente entendia por “colonial”; gastei horas explicando o que significava
fazer uma casa estilo colonial na atualidade. Numa dessas apresentações
descobri que todo interesse pelo colonial vinha do fato dela ter comprado uma
porta antiga. Isto posto, daí em diante tudo ficou mais claro, o projeto
resultou num projeto atual, uma estrutura de concreto apoiada em 4 pilares. A
porta passou a ser um objeto de arte numa casa moderna.
Num outro
momento, em outro projeto, não consegui entender e atender o sonho de meu
cliente. Depois de uma série de estudos preliminares fui percebendo que não
conseguiríamos estabelecer uma relação amistosa. Percebi que seria o caso de
indicar outro colega que poderia chegar aonde não cheguei. Dito e feito, o
projeto dele foi aceito sem grandes discussões e a obra se realizou.
Resumindo,
fazer arquitetura não é fácil. Nos próximos textos pretendo discutir outros
aspectos do trabalho coletivo, ou em equipe.