Texto publicado na Revista Mais (Clube Alto dos Pinheiros) nº163 /p.8
terça-feira, 20 de dezembro de 2022
O ARQUITETO ENTRE A ARTE E A TECNICA
segunda-feira, 14 de novembro de 2022
sexta-feira, 11 de novembro de 2022
Posso cortar a árvore do meu jardim?
Texto publicado na revista MAIS/AP - Clube Alto dos Pinheiros / nº 161
Há alguns dias, num restaurante, escutei essa pergunta na mesa ao lado.
Uma senhora estava revoltada por não poder cortar uma árvore que estava em seu
jardim; entupia as calhas e faziam sombras indesejáveis. Esta é uma pergunta
recorrente, tanto em relação a áreas privadas como públicas.
Existem leis de proteção à cobertura vegetal tanto municipais,
estaduais como federais, A Secretaria do Meio Ambiente do Município de São
Paulo é responsável pela legislação local.
Grande parte dos cidadãos não sabem da necessidade de obter uma
autorização para realização de corte de árvores. Nenhuma árvore pode ser
cortada sem que haja uma permissão oficial, mesmo que, quando em áreas públicas
atrapalhem a circulação de pedestres ou de veículos, ou ainda, atinja os fios
de energia.
Em qualquer circunstância, o corte de árvores só é autorizado a partir
de critérios específicos. Por exemplo, não é permitido o corte em função de
queda de folhas, entupimento de calhas e lajes, sombreamento indesejável,
presença de insetos ou fauna, proporções ou interferência na transmissão de
dados sem fio.
Além disso, quem descumprir a legislação do corte de árvores estará
sujeito a multa de oitocentos e quinze reais, no mínimo.
Qualquer pessoa que julgar necessário o corte de árvores em
propriedade privada ou pública terá que entrar em contato com a subprefeitura
da sua região, que orientará como cortar árvores de maneira correta conforme a
legislação; e mesmo que haja autorização, o responsável
pela vegetação deve contratar uma empresa especializada em corte de árvores, a
qual se encarregará pela contratação de um engenheiro ambiental responsável
pela fiscalização do processo.
Para
compreender as situações colocadas é necessário conhecer o papel que a
arborização urbana representa para a cidade quanto ao abastecimento de água e
energia, por exemplo.
Arvores no
ambiente urbano tem diferentes funções tais, como reter a poluição do ar, manter
o microclima, diminuir a temperatura, aumentar a umidade e permeabilidade do solo
, além de sombrear calçadas.
Para quem
se interessar em aprofundar a questão, existe na SAAP – Sociedade Amigos de
Alto de Pinheiros – documentos que esclarecem os conteúdos de todas as leis
vigentes.
Apesar
disso, temos assistido, em toda a cidade, árvores sendo danificadas em função
de rede elétrica e de transmissão de dados. Danos que fragilizam sua estrutura.
Precisamos olhar criticamente essa questão. Numa próxima ocasião discutirei esse
assunto, perguntando sobre a responsabilidade dessas concessionarias. Por
enquanto termino respondendo à vizinha de mesa: Não, a senhora não pode cortar
a árvore do seu jardim.
quinta-feira, 6 de outubro de 2022
Na compra de um imóvel, quais aspectos considerar?
É um desafio comprar um imóvel,
sobretudo para leigos, profissionais de outras áreas e campos do conhecimento. Muitos
de nós já se depararam com esta situação, momento difícil que envolve aspectos objetivos
e subjetivos a serem considerados.
Neste texto pretendo discutir
aspectos físicos dos imóveis que podem influir no bem-estar das pessoas e que
nem sempre são evidentes. Durante meu percurso profissional muitas vezes fui
chamado para acompanhar clientes para orientá-los no sentido de realizarem
melhores escolhas. Isto posto, como estruturo o meu olhar? O que observo? Como
os oriento? Num primeiro momento situo o imóvel em relação às condições de
insolação, ou seja, em relação à posição dos espaços edificados frente ao clima
local.
Le Corbusier, importante profissional
do século XX, escreveu uma mensagem sobre esta questão aos jovens arquitetos.
Nela, afirma que em arquitetura o clima de uma região predomina sobre todas as
coisas. Concordo com ele.
No entanto, nem sempre os autores de projetos
arquitetônicos se lembram que entender o clima local é pré-condição para a
criação de espaços arquitetônicos confortáveis. É raro encontrar a indicação dos
pontos cardiais nos projetos apresentados em lançamentos imobiliários; a
direção Norte, em São Paulo, significa conforto e saúde para o usuário.
Numa primeira visita levo comigo uma
bússola (atualmente quase todos os celulares possuem uma) e verifico, antes de
qualquer coisa, qual é a posição dos dormitórios em relação ao norte. Na cidade
de São Paulo a melhor orientação solicita que os dormitórios estejam voltados
para o norte – pouco sol no verão e muito sol no inverno; entretanto, como isso
nem sempre é possível, aceita-se que estejam voltados para nordeste ou sudeste
considerando que sol da manhã (nordeste) é menos agressivo que o sol da tarde
(noroeste). Caso os dormitórios estejam em outra direção, por exemplo voltados
para o quadrante sul (orientação que jamais recebe os raios solares) esses
espaços serão propensos à formação de ácaros e mofo. Explico ao cliente os
porquês, exagerando, que esses dormitórios são verdadeiras incubadoras de
doenças pulmonares.
Em seguida examino os outros
ambientes onde os aspectos de insolação não são tão importantes. As salas não
devem estar voltadas para o oeste (onde o sol se põe) pois permanecem quentes
nas noites de verão. Em outros ambientes, considerados de curta permanência
(cozinhas e banheiros, por exemplo), a questão da insolação é mais flexível. Procuro,
também, verificar os ambientes que são voltados para o sul, pois, em São Paulo,
a predominância é de ventos que se originam no polo sul e consequentemente são
frios. E os banheiros? A Legislação de São Paulo aceita que esses espaços
tenham somente ventilação forçada, o que é permitido, mas nem sempre é a melhor
solução.
Constato que maus
exemplos podem ser facilmente encontrados em São Paulo. Os edifícios de
apartamentos com quatro unidades por andar apresentam, na maior parte das vezes,
uma das unidades de cada andar com insolação totalmente insatisfatória. São os
apartamentos voltados para o quadrante sul (espaços que nunca recebem sol).
Observo também o
desconhecimento (ou desconsideração?) de alguns arquitetos frente à insolação dos
ambientes. Facilmente são observados edifícios, até mesmo considerados de alto
luxo, em que os dormitórios são voltados para diferentes faces e
consequentemente, cada um com um tipo de insolação. É como se o autor do
projeto não tomasse uma decisão frente ao problema. São problemas sem conserto ao
longo dos anos. Muitos autores de projetos se defendem desse tipo de crítica por
meio da climatização dos ambientes, como se o ar condicionado resolvesse
qualquer problema. Ele é relevante, sem dúvida, mas um bom projeto pode
minimizar o seu uso e poupar energia.
Os empreendedores
sabem disso, pois é comum observar, em lançamentos de novos empreendimentos, a
existência de unidades habitacionais de menor preço que são aquelas com piores
condições de insolação e ventilação.
Em relação aos
novos empreendimentos, o instrumento de vendas é o marketing. Normalmente os
folders promocionais, quando mostram plantas de apartamentos, não indicam a
posição do norte e nem mesmo a implantação do edifício no lote o que poderia
dar uma pista para compreensão dos aspectos aqui levantados.
No processo de
análise de um imóvel muitos outros aspectos também precisam ser considerados,
mas deixarei para discuti-los numa próxima oportunidade.