Impressiona o elevado número de edifícios que estão em
construção, em São Paulo. A Av. Rebouças, por exemplo, mudou completamente de
aspecto nos últimos anos, com novas construções ou terrenos vazios resultantes
de demolição das residências que até há pouco tempo caracterizavam a avenida.
Muitos desses novos edifícios chamam a atenção, quer seja
pela existência de muitos terraços e espaços vazios, ou pelo uso dos pavimentos
térreos para fins comerciais, criando novas linguagens arquitetônicas. Esses
aspectos resultam da atual legislação que orienta edificações de uso múltiplo,
com calçadas mais largas com acesso à áreas comerciais.
Meu objetivo neste texto é chamar a atenção para as
informações contidas nas placas das obras e produtos promocionais para
comercialização. É comum que apareçam o nome do incorporador, da construtora e
outros participantes, mas raramente o nome do autor do projeto arquitetônico, a
não ser quando são nomes consagrados pelas mídias e que emprestam prestígio à
obra .
Seria esquecimento? Ou será porque o projeto arquitetônico é
simplesmente uma peça na engrenagem, embora básica para a produção da
edificação, que deixa de ser importante para comercialização que valoriza
outros aspectos, tais como localização, proximidade a serviços gerais ou instituições
culturais, transportes.
Analisando novos lançamentos do mercado imobiliário observei
que somente cerca de 20% deles informa o autor do projeto arquitetônico. Em um
dos lançamentos encontrei a seguinte frase “a arquitetura é contemporânea, mas
de custo acessível”. Desta forma, numa mensagem subliminar, fica evidenciado
que a arquitetura encarece a obra, quando, na realidade, um bom projeto
racionaliza o espaço a ser construído.
Outro aspecto a ser comentado é a ênfase que o mercado imobiliário
atribui aos nomes dos edifícios. Será que nomes como “Heritage by
Pininfarina” (Pininfarina é design automobilístico), “Maison Degas”
ou “Palais Royal” são mais importantes do que o espaço interno dos
apartamentos, desconsiderando onde e como se vai morar, passar grande parte do
dia os espaços, tais como dormitórios onde somente é possível a colocação de
camas se encostadas na parede, iluminação e ventilação inadequadas?
Onde estão os autores dos projetos? O mercado imobiliário,
com algumas exceções, considera o projeto arquitetônico um elemento de
importância relativa, na medida em que, poucas vezes essa informação é inserida
nas matérias promocionais, mas ao mesmo tempo relevante para produção
constitutiva da montagem do negócio imobiliário.
O projeto arquitetônico não tem a menor importância para muitos
segmentos do mercado imobiliário. Deixa de ser uma peça fundamental na engrenagem
e passa a ser um simples parafuso, importante, inicialmente, para sustentar a
montagem do conjunto.