domingo, 27 de dezembro de 2020
sexta-feira, 18 de dezembro de 2020
Arquitetura e saúde
Texto Publicado na Revista Mais/ AP - Clube Alto dos Pinheiros / nº138
Autor : Francisco Segnini Jr.
O momento pandêmico colocado pelo vírus Covid-19 nos impõe reflexão sobre o papel da arquitetura quanto às condições de insolação, ventilação e higiene das edificações.
O tema arquitetura e saúde, num primeiro momento, nos remete às edificações hospitalares. Entretanto, as condições de conforto, salubridade e bem estar das pessoas são aspectos considerados pela arquitetura moderna desde o início do século XX, embora muitas vezes esquecidos em decorrência do desenvolvimento tecnológico e, entre eles, o ar condicionado.
As medidas tomadas para prevenção do Covid-19 têm chamado a atenção sobre esta questão, mas quase sempre se referem às ruas, ao transporte público e aos espaços de uso coletivo como os atuais edifícios de escritórios dependentes de climatização. Nessa perspectiva, a casa é considerada um ambiente seguro. Entretanto, nem sempre elas oferecem condições adequadas de ventilação e de insolação. A condição para tanto depende de muito aspectos, desde condições de saneamento básico - esgoto e água tratada - até ventilação e insolação adequadas.
A popularização da climatização de ambientes por meio do ar condicionado, possibilitou que muitos profissionais se esquecessem de considerar a ventilação natural como uma qualidade. Por exemplo: para os edifícios de escritório totalmente revestidos de vidro, sem levar em conta a incidência de sol e calor, determina que o ar condicionado seja um equipamento imprescindível. Ele não é em si mesmo, o vilão da história. O problema está no uso de sistemas que captam o ar interno e o resfria ou aquece com baixas taxas de renovação de ar e com filtros nem sempre muito eficientes. Neste caso, as gotículas e aerossóis emitidos por pessoas portadoras de vírus e bactérias ficam suspensos no ar potencializando a contaminação de grupos maiores. Existem outros sistemas que usam somente o ar externo para a climatização, criando condições de melhoria da qualidade do ar interno, mesmo quando comparado com a ventilação natural. Os custos do primeiro sistema são menos dispendiosos do usam ar externo, como por exemplo os Splits encontrados em residências, restaurantes, instalações comerciais etc.
As múltiplas formas de contaminação do Covid-19 valorizaram as condições de insolação, ventilação e higiene das edificações. Em situação semelhante, condicionado pela presença da gripe espanhola e da tuberculose no início do século XX, o vínculo entre saúde, arquitetura e cidade foram também considerados. Nesse período, de acordo com a arquiteta espanhola Beatriz Colomina, in revista Fapesp nº296, o enfrentamento das doenças se deu por meio da arquitetura hospitalar informando protocolos médicos.
A arquitetura brasileira tem conhecimento técnico suficiente para enfrentar esses problemas. Os hospitais da Rede Sarah, projeto do arquiteto João Filgueira Lima, são exemplares na solução das condições climáticas, sem uso do ar condicionado. Atualmente muitos arquitetos redescobriram os elementos vazados e quebra sois usados pela arquitetura moderna brasileira já nos anos 1950. Trata-se de elementos arquitetônicos que permitem sombreamento e ventilação natural promovendo conforto sem o uso da climatização.
Essa questão será analisada incorporando outros aspectos no próximo texto.
IPH - Instituto de Pesquisas Hospitalares /Arquitetos Francisco Segnini Jr. e Joaquim Barretto
IGREJA DA CRUZ TORTA / MÃE DO SALVADOR
Arquitetos Francisco Segnini
Joaquim Barretto
PARA SENTIR E COMPREENDER O TRÍPTICO DA IGREJA MÃE DO SALVADOR
Renina Katz / 1976
Tarefa difícil a de enfrentar um espaço destinado à liturgia, e sem se valer de um discurso convencional. Maria assume o desafio. Numa linguagem clara e simples, a embora indireta, integra no espaço arquitetônico a sua mensagem contemporânea de cristandade. Os critérios clássicos da liturgia são desenvolvidos de forma dramática, onde a narração não se apóia numa retórica desgastada. A cruz, seu elemento básico como símbolo, não ocupa o centro como foco convencional; está presente em todo o percurso do painel.
Desmembrada, referida, insinuada e até configurada, ela é o símbolo chave.
Surge do reconhecimento. E o modo de organizar o espaço, marca o lugar das
convenções litúrgicas. O lado direito e o esquerdo, com sua significação do
divino e do profano e o centro como o lugar da ascensão.
Tudo relacionado num desenvolvimento sem rupturas, que vale mais do que o
desejo de encontrar a boa forma de representação. Vale, sobretudo, como
intenção de caracterizar que importa mais integrar do que romper as dualidades
e ambivalências da condição humana.
segunda-feira, 24 de agosto de 2020
sexta-feira, 19 de junho de 2020
Residência Joaquim Barretto
Os arquitetos são responsáveis por obras de extrema importância para o legado arquitetônico de Ribeirão Preto, onde atuaram com competência, projetando e construindo juntos arquiteturas icônicas.
Uma das obras de maior maturidade dessa dupla, a casa localizada no bairro do Pacaembú, em São Paulo, é impressionante: da rua não se tem ideia do desnível acentuado do terreno (praticamente 100% de inclinação), com estrutura de concreto armado que possibilita grandes vãos, e lajes que vão descendo cadenciadamente o declive, marcado por uma solução engenhosa de arquibancada arrimo. Para o transeunte alheio, entretanto, a construção não é menos impactante, exibindo dois pavimentos superiores, de seus 5 andares), estrutura de concreto armado aparente, alvenarias revestidas com pastilhas azul-marinho, vidros fixos com janelas de madeira que fecham por dentro, grandes beirais que acomodam um generoso telhado cerâmico de quatro águas, além do volume da caixa d’água, marcando onde se encontra também a circulação vertical.
Se já não bastasse essa liberdade com que os arquitetos definem o projeto, uma arquitetura refrescante em meio ao cansaço do “brutalismo paulista” da época, o portão de entrada, a cor, o vermelho, tão bem usado pelos arquitetos, aparece na paisagem de maneira marcante.
O projeto foi publicado na revista italiana Domus e também na Revista Projeto, atribuindo a autoria do projeto erroneamente apenas a Barretto, em um momento em que ambos os arquitetos ainda trabalhavam juntos em sociedade.
Vemos nessa postagem a necessidade de corrigir esse erro, e garantir também a Francisco Segnini a importância no desenvolvimento de obra tão icônica e representativa do legado que ambos deixaram.
Imagem: Acervo dos autores (2016).