Concurso realizado em 2012 na FAUUSP
Banca:
Profa. Dra. Sheila Orstein ( presidente da banca)
Profa. Dra. Heliana Comin Vagas
Prof. Dr. Roberto Heloane
Prof. Dr. Afonso Fleury
Prof. Dr. Fabio Guerrini
Memorial Circunstanciado
Nasci em Boa Esperança do Sul, uma pequena
cidade ao lado de Araraquara, para onde me mudei junto com minha família,
quando tinha 3 anos.
Comecei meus estudos no Colégio
Progresso de Araraquara, onde iniciei o pré-primário e, em seguida, o primário.
A escola particular apresentava-se como a melhor opção, naquele período, em
termos de qualidade.
Filho mais novo, temporão, entre quatro
irmãos; perdi minha mãe quando tinha quatro anos, meus irmãos muito mais velhos
do que eu, de certa forma, assumiram a orientação de minha educação.
A escolha da escola primária coube à
minha irmã, que já era professora primária. Meu pai, filho de imigrantes,
fazendeiro, não tinha condições de realizar essa escolha, mas tinha total
confiança nas orientações de sua filha professora.
Apesar da pouca inclinação para a
música, estudei piano durante dois anos, sem que realmente tivesse me
envolvido, dado o desinteresse que demonstrava na sua aprendizagem; no entanto,
sempre gostei muito de ouvir música.
Iniciei, já no ginásio, estudos
complementares – inglês, na União Cultural Brasil-Estados Unidos e francês, na
Aliança Francesa-.
O curso secundário (ginásio e
colegial) realizei no Instituto de Educação Bento de Abreu, escola pública, também
considerada a melhor escola possível em Araraquara. Mesmo assim, sempre me foi
proporcionado cursos complementares com
a preocupação de enriquecer o conteúdo básico aprendido, assim como, preencher
lacunas existentes.
O curso universitário não foi uma
opção; era entendido como uma obrigação a ser cumprida. Além disso, havia um
compromisso do meu pai assumido com minha mãe que eu também cursaria o ensino
superior. Entretanto, sempre me foi dado liberdade para optar pelo curso que
mais me interessasse; embora, penso, era esperado que eu fizesse agronomia,
assim como meus outros dois irmãos, engenheiros agrônomos, formados pela Escola
Agrícola Luiz de Queiroz – USP. O vínculo familiar com a terra era e é muito
forte. Numa família de fazendeiros e agrônomos, um arquiteto! O que nos une, além
dos laços afetivos, era o CREA – Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura.
Agora, com a criação do CAU – Conselho de Arquitetura e Urbanismo, não mais.
A minha opção inicial era fazer
Politécnica / USP, posto que, desde criança eu queria ser “engenheiro de fazer
casa”, e no universo araraquarense esse desejo se concretizaria na Poli ou no
Mackenzie e se intitulava engenharia civil.
O ensino em Araraquara tinha algumas
limitações, principalmente em disciplinas básicas para o vestibular, tais como
física, química, desenho geométrico. Em função disso, considerando que pretendia
me inscrever em vestibulares
concorridos, minha família, assim como as famílias de mais dois colegas –
Silvio Roberto de Azevedo Salinas e José Péricles Freire Jr – nos enviaram para
São Paulo para fazermos o 3º ano colegial, em 1960. Concomitantemente, deveríamos
fazer um cursinho pré–vestibular. Para tanto, foi escolhido o Curso Anglo
Latino. Salinas e eu conseguimos transferência para o Colégio Estadual
Presidente Roosevelt, onde cursamos o 3º científico, no período noturno.
Mudei para São Paulo com dezesseis
anos de idade, sem a companhia de minha família, vivendo de mesada, morando em
pensão, num mundo diferente, desconhecido, sem telefone. Foi, antes de tudo,
uma “trombada”. O que deixou esse primeiro período um pouco mais fácil foi ter
morado com meus outros dois amigos araraquarenses.
Os primeiros tempos foram muito
difíceis, mas muito importantes também. Foram novos professores, novos assuntos
e, principalmente, descortinou-se para mim um novo mundo. Descobri que para ser
“engenheiro de fazer casas” era melhor fazer o curso de arquitetura, profissão
totalmente desconhecida até então para mim. O único arquiteto que existia em
Araraquara era o arquiteto Nelson Barbieri, lá conhecido como engenheiro. Para
tanto, contei com a confiança, o apoio e respeito de minha família.
Apesar de ter estudado pouco as
disciplinas ministradas no cursinho pois o científico no Roosevelt, praticamente,
absorvia todo o tempo disponível, passei no vestibular da FAUUSP, na primeira
tentativa. Acredito que nessa empreitada fui ajudado pelo fato de estar muito
tranqüilo. Acreditava estar mal preparado e tinha a certeza que iria refazer o
cursinho no ano seguinte. Não fiz o vestibular do Mackenzie, pois como não era
minha primeira opção, achei que, mal preparado como me sentia, seria perder
tempo. Entretanto, como costumo dizer,
“para massagear o ego”, me inscrevi no vestibular do curso de matemática da
USP, vestibular que eu considerava mais fácil (eu sempre tinha tipo muita
facilidade nessa disciplina). Fiz as provas escritas, nas quais consegui notas
altas. Nesse meio de tempo, saiu o resultado da FAU, o que me fez desistir de
fazer as provas orais naquela escola. Naquele tempo era possível realizar
vestibular em diferentes cursos na USP, no mesmo ano.
Quando entrei na FAUUSP tinha 17
anos. Ter iniciado o curso com tão pouca idade fez com que eu fosse um aluno
aplicado, embora, vejo hoje, tenha perdido muito do que a FAU poderia ter me
proporcionado em termos políticos, sociais e até mesmo culturais. Eu me sentia
expectador dos acontecimentos que foram efervescentes política e culturalmente (1961/1965).
Ao sair da FAU, conseqüentemente
ainda muito jovem, queria arrumar um “emprego” a todo custo. Desde o 4º ano da
escola, junto com colegas, tanto da FAUUSP como da FAU Mackenzie, havia montado
um “escritório” – Exercitávamos o desenho.
Consegui o aguardado emprego na
Villares – Elevadores Atlas – em 1966. Lá fiquei um único dia, tal foi o susto!
Saíamos da FAU para ser “Artigas” ou “Niemeyer” e não para vender elevadores!
Logo em seguida consegui realizar meu
primeiro projeto junto com Joaquim Barretto, amigo araraquarense – uma
residência em Ribeirão Preto - um grande alento nesse período de desorientação frente
a uma carreira que se iniciava, num ambiente de incertezas.
Residência MM/ Ribeirão
Preto, 1966 /Foto do Autor
Ainda assim, procurava “emprego”! Eu
queria ser independente financeiramente. Trabalhei na Construtora Bonfiglioli
durante oito meses, realizando um trabalho sem graça e desgastante, porém
determinante para minha opção pelo trabalho liberal que já começava a se desenvolver,
de forma gradativa, em sociedade com o arquiteto Joaquim Barretto.
Quando fui trabalhar na Prefeitura de
São Paulo, em 1967, no Departamento de Parques e Jardins (emprego de meio
período) já era mais clara a opção profissional. Eu precisava de uma renda fixa
para manter o escritório.
O trabalho na prefeitura me trouxe
muita satisfação. O Departamento de Parques e Jardins produzia projetos que, de
fato, seriam executados. O grupo de profissionais era muito jovem, quase todos
recém formados. Fomos contratados dentro de uma proposta maior desenvolvida
pelos arquitetos – Rosa Kliass, Miranda Magnoli, Julio Katinsky –. Na ocasião,
elaboravam o Plano de Áreas Verdes de São Paulo.
Éramos jovens, com muito a aprender e
com muita garra. Trabalhávamos em equipe. Assim, junto com as arquitetas Lucia
Porto e Vera Serra, fizemos trabalhos muito gratificantes. Obtivemos com nossos
projetos dois prêmios de paisagismo: Prêmio do Salão Paulista de Belas Artes e
Prêmio de Paisagismo do IAB.
Praça
Vinicius de Morais, antiga Praça Barão de Pirapama
Fonte:
ROBBA, F. MACEDO, S.S. Praças Brasileiras São Paulo: EDUSP, 2002, pág. 102
Nesse período comecei a me interessar em
voltar a estudar, voltar para a universidade. Cursei, em 1968 na FAUUSP, um
curso de pós-graduação com o Prof. Dr. Nestor Goulart Reis e iniciei o mestrado
na Escola Politécnica, na Área de Planejamento. O curso de pós-graduação da
FAUUSP ainda não se encontrava estruturado.
Não me envolvi com os cursos oferecidos
pela Politécnica, distantes da área de meu maior interesse – a edificação.
Somente retomei o mestrado em 1978, agora na FAUUSP, orientado pelo Prof. Dr.
Siegbert Zanettini.
Em 1970, indicado por um colega,
também arquiteto do Departamento de Parques e Jardins – Milton Pelliciotta -,
entrei em contato com o grupo que estruturava a Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Fundação Paraibana de Ensino, em São José dos Campos. Dessa
maneira, voltei para a “escola”, agora como professor assistente do arquiteto
Paulo Bastos, na disciplina de Projeto da Edificação.
A experiência realizada em São José
dos Campos foi muito rica, tanto pela oportunidade de retomar os estudos, agora
na qualidade de professor, como de desenvolver novas opções de trabalho. Além
disso, esse período iniciado em 1971 e que duraria até 1973, propiciou amizades
que muito influenciaram minhas opções profissionais e políticas a partir de
então. Paulo Bastos, Mayumi Souza Lima, Plácido Campos, Dalton de Luca, Ricardo
Ohtake, Ana Maria Belluzzo, José Eduardo Lefebvre, foram amigos e colegas muito
importantes nesse período. Alguns alunos da primeira turma, tais como Pedro
Moreira Ribeiro, Marcelo Ferraz, “Passoca”, Vicenzo Colona, Guto Lacaz, tornaram-se
amigos até hoje.
Em meados de 1973, em função de
problemas internos da escola, assim como
conjunturais e políticos, alguns colegas e eu deixamos São José dos Campos, em
solidariedade a Paulo Bastos.
A semente estava plantada, o trabalho
docente passou a fazer parte de meus interesses. Assim que deixei São José dos
Campos, iniciei trabalho semelhante na FAU Mackenzie, como professor na
disciplina Projeto de Edificações, no 4º ano do curso, junto com o arquiteto
Prof. Hoover Sampaio e, em seguida, com o arquiteto Prof. Teru Tamaki. Nesse período,
em função da falta de professor de paisagismo e considerando minha experiência
anterior, me foi solicitado assumir aulas de paisagismo, logo substituído pela
Profa. Dra. Maria Assumpção, que na época iniciava sua carreira docente.
Concomitantemente com as atividades
docentes, o escritório ainda em sociedade com o arquiteto Joaquim Barretto,
continuava se desenvolvendo. Entretanto,
no final de 1979, sérias dificuldades financeiras foram provocadas pelo
desenvolvimento de um grande projeto na Costa do Marfim, na África. Após dois anos de trabalho coordenando
uma equipe de seis pessoas entre arquitetos e estagiários, fomos informados que
os honorários não seriam pagos, ou melhor, somente receberíamos 20% do valor
acordado.
Desanimado com o escritório, imaginei
que se voltasse a ser um profissional assalariado e bem pago, seria “feliz para
sempre”. Ledo engano! Nesse ano, fui assessor da empresa moveleira Securit S/A para
elaboração de projetos de layouts para escritórios. Eu o considero como um dos
piores anos de minha vida profissional.
Essa interrupção da atividade
liberal, apesar de ter sido dolorida, significou um recomeço em outras bases,
rico em experiências e muito mais seguro em termos profissionais.
No início de 1981 deixei a Securit
S/A e reorganizei meu escritório, agora sozinho. Contei para tanto com a
compreensão de minha família, nesse momento, constituída por Liliana, minha mulher
desde 1974, e filhos – Mateus, e Marina, André que nasceria no ano seguinte.
Nesse reinício de atividades, um
amigo, companheiro de nossa aventura na África, Tarcísio B. de Souza Santos,
teve também um papel importante ao me ceder um espaço em seu escritório de
assessoria em economia. Além de voltar às atividades liberais, já começava a me
preocupar com as relações de trabalho do arquiteto e em 1999 participei da
chapa eleita para diretoria do Sindicato dos Arquitetos de São Paulo.
Durante todo esse tempo de atividade
docente, sempre esteve presente o desejo de voltar à FAUUSP. Em 1984, após processo
seletivo, ingressei no Departamento de Tecnologia da Arquitetura dessa escola,
para ministrar, em tempo parcial – RTP - a disciplina atualmente denominada AUT 520 –
Prática Profissional e Organização do Trabalho.
Essa disciplina, na época era desenvolvida
conjuntamente com o Prof. Dr. José Luiz Fleury de Oliveira e era vista pelos
alunos como uma tarefa enfadonha a ser cumprida. Desde o início, trata-se de uma
disciplina obrigatória colocada no último ano da graduação e era conhecida
pelos alunos como “legislação”, embora tivesse objetivos mais amplos. Embora a
ementa dessa disciplina tenha sido pouco alterada, o enfoque principal, naquele
momento, era apresentar a legislação vigente, tanto a que envolve as
atribuições, direitos e deveres do arquiteto, como a legislação de uso do solo.
Desde o início, minha preocupação foi introduzir na discussão desses aspectos os
problemas que os novos arquitetos encontrariam no processo de sua inserção
profissional, as incoerências, os conflitos e as diferentes maneiras de
entender a legislação, bem como o papel que o arquiteto desempenha no processo
de mudanças sociais e desses paradigmas. Atualmente, divido essa disciplina e
seus conteúdos com a Profa. Dra. Rosária Ono. Cabe à mim a análise dos aspectos que envolvem
o exercício profissional do arquiteto; a Profa. Rosária discute os aspectos que
envolvem a produção da edificação – legislação edilícia e de uso do solo.
A prática profissional, enquanto disciplina de
estudo e pesquisa, até então, não havia sido por mim devidamente compreendida,
identificada. Surpresa foi perceber que as indagações que permeavam meu
trabalho encontravam-se nesse universo.
A Dissertação de Mestrado, defendida
em 1986, intitulada “Racionalismo, Arquitetura e Capitalismo”,
orientada pelo Prof. Dr. Siegbert Zanettini, expressa essas questões. O objetivo deste trabalho é compreender as
circunstâncias econômicas, sociais e políticas que permeiam as possibilidades
de elaboração do projeto arquitetônico e, para tanto, usei como objeto de
estudo projetos desenvolvidos por mim no período 1966 a 1986. Naquele momento,
eu completava 20 anos de formado.
Durante 6 anos fui representante da
FAUUSP junto ao CREASP participando da Câmara de Arquitetura, atividades estreitamente
ligada aos conteúdos da disciplina ministrada. Ainda em atividades ligadas às
minhas tarefas didáticas, fui representante da FAUUSP junto à Secretaria Municipal de Habitação
participando das consultas públicas à comunidade no processo de elaboração de
novo Código de Obras, na Gestão Mario Covas.
Em 1990, com o objetivo de me
envolver com maior qualidade nas atividades de ensino e pesquisa, solicitei e
fui aceito como professor em regime de RTC – Regime de Turno Completo.
O aprofundamento dessas mesmas
indagações resultou em minha Tese de Doutorado intitulada “A “Prática Profissional do Arquiteto em Discussão”, defendida em
2002, orientada pelo Prof. Dr. Ualfrido Del Carlo. O objetivo dessa tese foi analisar a prática profissional
do arquiteto e a relação que a produção do projeto arquitetônico, entendido
como expressão da arte e da técnica, estabelece com o mercado. O objeto de
pesquisa analisado foi constituído por depoimentos e entrevistas de 206 arquitetos,
selecionados em 91 exemplares da Revista AU – Arquitetura e Urbanismo, no
período de 1985 a 2000. Esse período é particularmente significativo porque
nesses quinze anos são observadas mudanças relevantes com implicações no
trabalho do arquiteto, como a
intensificação do fenômeno social, econômico e político denominado globalização
e a difusão da informática, alterando a produção do projeto. No plano político
nacional significa o término do período militar. A hipótese norteadora desta
pesquisa é que a tensão entre arte, técnica e mercado, observada na prática
profissional do arquiteto, desde o Renascimento, se intensifica nesse contexto.
No final de 1998, fui convidado por
um cliente (para quem eu estava projetando uma residência), para coordenar um
curso de arquitetura e urbanismo numa universidade de sua propriedade.
Tratava-se do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Bandeirante de
São Paulo – UNIBAN, Já existente há cerca de dois anos. Num primeiro momento,
minha resposta foi: “eu não tenho tempo disponível para assumir um curso”.
Entretanto, após algum tempo, seduzido pela possibilidade de montar um curso de
arquitetura e urbanismo como eu gostaria e com a promessa que assim seria, aceitei
a empreitada e iniciei minhas atividades no início de 1999. Uma das condições
para assumir essa tarefa era não ter horário pré-definido, para que não
houvesse limitação às minhas atividades já em curso (meu escritório e a FAUUSP)e,
ter liberdade para montar o curso da melhor maneira possível. Naquele momento, eu
sabia que meu trabalho teria limitações, tais como: cursos de meio período (um
matutino e outro noturno), inseridos em uma instituição privada empresarial e
com alunos de origens sociais, econômicas e culturais diferentes dos alunos
tanto da FAUUSP como da FAU Mackenzie. De fato, nos três primeiros anos tive
“carta branca” e montei, com a ajuda da arquiteta Paula Katakura, um curso que
acreditávamos adequado e eficiente para o alunado que tínhamos. Entretanto, no
4º ano de minha permanência naquela instituição, após o reconhecimento do curso
de Arquitetura por parte do MEC, com uma nota razoável para aquela conjuntura –
seis -, deixei de ter a liberdade até então existente. A situação de trabalho
deixou de ser prazerosa, as atitudes desrespeitosas se multiplicaram, me
deixando sem vontade de continuar. Deixei aquela instituição no final de 2002.
Nesse momento, eu já havia defendido minha tese de Doutorado,
o que permitia maior envolvimento com a FAU. O título de doutor permitia
participar mais efetivamente na instituição, quer seja em pesquisa e docência,
como em comissões e outras atividades administrativas.
No segundo semestre de 2001, por
solicitação do Departamento de Projeto, convidado pelo Prof. Dr. Sylvio de
Barros Sawaya, então Coordenador do Grupo de Disciplinas de Projeto, passei a
colaborar com esse departamento na Disciplina AUP 0152 - Projeto IV (2º
semestre de 2001). A partir de então, passei a trabalhar junto a esse
departamento em disciplinas afins, o que faço até a presente data. Atualmente
ministro, juntamente com o Prof. Dr. Fabio Mariz Gonçalves, uma disciplina
experimental, ainda alocada no departamento de projeto – Estágio Supervisionado
-, a qual passará a ser uma disciplina interdepartamental no próximo semestre
(1º semestre de 2012).
Desde o
final dos anos 1990 participo da comissão que organiza e orienta o TFG –
Trabalho Final de Graduação e, durante algum tempo, coordenei essas atividades, que constituíam uma
disciplina do Departamento de Projeto (AUP 604).
A partir
de junho de 2003, por minha solicitação, passei a me dedicar à FAUUSP em RDIDP
– Regime de Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa. A partir desse momento
a carreira do professor/pesquisador assume importância maior do que a do
arquiteto liberal.
Ainda
nesse ano, convidado pela Companhia City de Desenvolvimento, estive nos Estados
Unidos com o objetivo de conhecer a teoria que embasa o movimento chamado “New Urbanism”. Para tanto, autorizado
pela FAUUSP, tive a oportunidade de participar de uma experiência de trabalho
junto ao escritório de arquitetura e urbanismo – DPZ – Duany Plater – Zyberk & Company, um dos mais importantes escritórios
que trabalhavam nessa perspectiva teórica. Era um momento de procura de novos
campos de pesquisa.
Também em 2003, tive a oportunidade
de participar da elaboração do Programa de Dupla Formação FAU/POLI. Foi uma
experiência muito gratificante, tanto pela convivência com colegas com os quais
nunca havia trabalhado - Profa. Dra.
Heliana Comim Vargas, Prof. Dr. Paulo Bruna, Prof. Dr. Francisco
Cardoso, Prof. Dr. Henrique Lindenberg Neto, entre outros, como pela oportunidade de participar de uma
experiência inovadora na Universidade de São Paulo - a criação de um programa
inter institucional para formação de um profissional com conhecimento ampliado,
nas duas instituições.
A experiência na UNIBAN, embora desgastante
no último ano de atividade, foi para mim de grande importância para conhecer
melhor o ensino superior no Brasil e, conseqüentemente, as propostas de
diretrizes já existentes para os cursos de arquitetura e urbanismo.
Desejando me aprofundar nessa perspectiva
– ensino de arquitetura e urbanismo no Brasil -, comecei a participar dos
encontros e congressos da ABEA – Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura
e Urbanismo, o que tenho feito nestes últimos anos. A formação do Arquiteto é um
dos temas de minhas pesquisas, atividades de docência e extensão, somada ao
exercício da profissão.
Esse gradual processo de envolvimento
com o ensino da arquitetura e urbanismo, me fez compreender que seria
necessário conhecer outros cursos de Arquitetura e Urbanismo no país, o que
pude fazer na medida em que passei a fazer parte do quadro de avaliadores do
INEP/MEC (hoje EMEC).
Assumir a coordenação da COCAU –
Comissão de Coordenação do Curso de Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP foi uma
conseqüência. Quando solicitado a fazê-lo, acreditei que, em função das
atividades que vinha desenvolvendo, estava em condições de assumir mais essa
tarefa.
A partir da mudança de meu regime de
trabalho, minhas atividades na FAU foram acentuadas, a pesquisa desenvolveu-se
e resultou em publicações e participações em eventos acadêmicos. Meus projetos
de pesquisa têm como universo de indagação a profissão o arquiteto e a produção
do projeto arquitetônico.
Num primeiro momento, minha
preocupação era o papel e a condição do arquiteto num mundo globalizado; essa
pergunta me levou a conhecer melhor a situação da profissão, principalmente na
Europa, e alimentou minhas aulas na pós- graduação. Num segundo momento, passei
a olhar o projeto arquitetônico frente às discussões que se estabelecem a
respeito da qualidade do projeto arquitetônico. Assim, passei a ser chamado
para participar de alguns encontros na
medida em que me contrapunha com as propostas que pretendiam tratar da qualidade do projeto
arquitetônico e se limitavam à qualidade do produto do projeto – desenhos
normatizados, equalizações com projetos complementares, racionalização de
materiais, etc. Percebi então que essas discussões nada acrescentavam a
qualidade do projeto enquanto produto cultural, visando o usuário e não o
lucro, inserido no seu tempo. Minhas atuais preocupações se encontram em
questões que se referem ao mercado de trabalho e ao conteúdo de projetos
elaborados para mercado.
Nesse processo, em colaboração com a
Professora Doutora Ângela Rocha, montamos dois grupos de pesquisa junto ao CNPq,
com a participação de outros colegas, bem como de nossos alunos de
pós-graduação. Esses Grupos de Pesquisa são liderados por mim e pela Profa. Dra.
Ângela Rocha e se denominam Processo de
Produção da Arquitetura e do
Urbanismo e Representações de suas
Metodologias.
Além das atividades de pesquisa,
participei e continuo participando de diversos órgãos administrativos.
Atualmente sou titular, no Conselho do Departamento de Tecnologia, membro da
Comissão de Graduação, como representante de meu departamento de origem, sou
membro da CCINT/FAU - Comissão de Cooperação Internacional da FAU, além de ser
representante da Comissão de Graduação na COCAU, da qual sou coordenador desde 2009.
Também participei, a pedido de alguns
colegas da FAU, entre eles o Prof. Dr. Wilson Jorge, da diretoria da FUPAM –
Fundação para a Pesquisa Ambiental, órgão fundado pelos professores da FAU. Fui
presidente dessa fundação durante 4 anos, uma tarefa difícil num momento em as
fundações de auxílio à universidade vinham sofrendo ataques tanto de
professores como de alunos. No período em que estive na presidência dessa
fundação percebi que precisaríamos fazer alguma coisa além da simples
transferência de recursos à Universidade e à FAU. Tive a oportunidade, apoiado
pela diretoria, de criar um fundo especial para a criação de bolsas de
Iniciação de Científica destinadas aos
alunos de graduação. Atualmente, a FUPAM mantém o trabalho de cinqüenta bolsistas, selecionados e cumprindo regras semelhantes
às utilizadas pela FAPESP.
Por solicitação do Prof. Dr. Ricardo
Toledo, então diretor da FAUUSP, assumi a coordenação da CCINTFAU – Comissão de
Cooperação Internacional da FAUUSP - em 2005. Naquele momento, as possibilidades de nossos alunos
complementarem sua formação no exterior eram bastante pontuais e, esporádicas.
Em maio de 2005, contávamos com dois alunos estrangeiros cursando algumas de
nossas disciplinas e tínhamos somente dois de
nossos alunos no exterior. Quando deixei a coordenação desse órgão, em
2010, tínhamos cinqüenta e um alunos estrangeiros em nossa escola e cinqüenta e
dois alunos da FAUUSP no exterior. Atualmente, substituo o Prof. Dr. João Sette
Whitaker nessa coordenação em função de sua permanência no exterior.
Coordeno também alguns convênios com
escolas européias, sendo três escolas francesas e uma portuguesa – ENSA -École
Nationale Supérièure d’Architeture Paris - La Villete, ENSA - École Nationale
Supérièure d’Architeture Paris - Val de Seine e ENSA - École Nationale Supérièure
d’Architeture Paris –Belleville, na França, e a Escola de Arquitetura do ISCTE
– Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, em Lisboa. Esses
convênios foram frutos de oportunidades que tive ao entrar em contato com essas
escolas que demonstram grande interesse
nos convênios que estabelecem conosco.
Durante toda minha vida acadêmica
junto a FAUUSP, tenho ministrado a disciplina atualmente denominada AUT 0520 –
Prática Profissional e Organização do Trabalho. A partir do início de 2006,
passei a ser responsável pela disciplina AUT 05830 – A Profissão do Arquiteto /
Desafios e Perspectivas - ministrada no
curso de pós-graduação. Os conteúdos ministrados nessa disciplina se referem à
pesquisas que venho desenvolvendo e tem como objetivo geral discutir a
profissão e a inserção do arquiteto na sociedade, destacando a produção do
projeto arquitetônico. Para tanto, procura aprofundar o conhecimento sobre a prática
profissional do arquiteto e suas relações com a produção do projeto e do espaço
construído; discutir o
trabalho do arquiteto enquanto uma atividade freqüentemente marcada pela noção
de métier e pela sua antítese, a noção de mercado; estudar a intrusão da "lógica
comercial" na produção do projeto arquitetônico a qual se desenvolve tendo
o mercado como referência; discutir o mercado de trabalho do arquiteto e sua
produção em múltiplas dimensões: utopia, arte, mercadoria; estudar as
contradições, presentes no processo de produção do projeto arquitetônico, relacionadas
ao mercado, como a crescente competitividade no contexto da globalização; as
formas e importância que o marketing assume no trabalho do arquiteto; a
compreensão por parte do profissional arquiteto de sua produção enquanto
negócio, geradora de lucro e da apropriação do trabalho de outros profissionais
e trabalhadores. Além disso, discutir a
relação do arquiteto com o cliente em suas diferentes dimensões e nas mais
diversas formas; ora como mecenas, ora como usuário que o arquiteto tem a
missão de "educar", ora como usuário a ser atendido, respeitado,
interpretado pelo profissional arquiteto, ora como consumidor necessário à
realização do projeto.
Fui ainda convidado a participar de
outras disciplinas, tanto do meu departamento (AUT 512 – Desenho Arquitetônico)
como do Departamento de Projeto. Assim, colaborei nas disciplinas: AUP 148
Projeto III, AUP 142 Projeto II e AUP 608 Fundamentos de Projeto. As
solicitações de colaboração com o departamento de projeto é resultado de minha
experiência, tanto na elaboração de projetos arquitetônicos como responsável
por disciplinas de ensino de projeto, resultado de minha experiência em São
José dos Campos e no Mackenzie.
Também desenvolvi atividades de
extensão e prestação de serviços à comunidade. Fui convidado pela FDTE – Fundação
para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia a ministrar curso de
preparação e complementação de conhecimentos na área da metodologia do projeto;
responsável pela disciplina – Metodologia de Projeto Arquitetônico – no
programa PROMINT.
Por meio da FUPAM, fui coordenador
dos cursos: Iluminação na Arquitetura, Planejamento e Projetos de Restaurante e
junto com a arquiteta Dra. Rosa Kliass, participei do Curso intitulado Programa
de Capacitação de professores de Arquitetura Paisagística – Módulo III –
Elementos construídos e detalhamento técnico.
A partir do momento em que passei a
ser professor em tempo integral, minhas atividades de projeto na qualidade de
arquiteto liberal perderam a relevância e a constância que tiveram outrora; no
entanto, nesse período, colaborei com a elaboração de alguns projetos, por meio
da FUPAM. Cito, por exemplo, o Projeto para o Parque Tecnológico de São Paulo,
desenvolvido segundo coordenação do Prof. Dr. João Steiner, então diretor do
Instituto de Estudos Avançados da USP e financiado pela FAPESP.
Estudo
preliminar do projeto Parque Tecnológico de São Paulo, 2009
Além desse trabalho, tive a
oportunidade de participar do Plano Diretor da cidade de Jaú no Estado de São
Paulo, do projeto do Poupa Tempo de Cidade Ademar em São Paulo.
Também nesse período passei por uma
experiência muito gratificante para um arquiteto já não tão jovem. Rever e
recuperar trabalhos elaborados há muito anos. Assim, fui chamado, na gestão da
Prefeita Marta Suplicy, por um ex-aluno – Marcos Cartum – para rever e
reelaborar o projeto da Praça Cidade de Milão, inicialmente elaborado em 1970
pela minha equipe de trabalho no Departamento de Parques e Jardins.
Fui chamado também para orientar a
recuperação e restauração de um dos meus projetos que considero relevante na
minha carreira – Igreja Paróquia Mãe do Salvador - conhecido como Igreja da
Cruz Torta. Projeto inicial datado de 1972, desenvolvido juntamente com o
arquiteto Joaquim Barretto (falecido em 1985). Atualmente, encontrava-se em
processo de degradação preocupante. Venho elaborando essa assessoria gratuitamente
no sentido de preservar uma obra que foi muito importante no meu
desenvolvimento profissional e que já se tornou parte da cidade. No altar, um
painel de autoria da artista plástica Maria Bonomi, que também participa do
processo de recuperação da igreja.
Igreja
da Cruz Torta, painel de autoria de Maria Bonomi, 1972. Foto do autor.
Concluindo, destaco que me formei
arquiteto, sempre estive muito envolvido nesta profissão que ainda tem muito a
colaborar com a qualidade de vida da população brasileira. Tive a oportunidade
de elaborar, na área da edificação, cerca de 700 projetos de arquitetura -
estudos e projetos que ficaram no papel e projetos edificados-. No entanto, eu
me descobri um professor e pesquisador, profissão para a qual eu não me
preparei, mas que exerço com empenho e prazer. A formação de novas gerações de
arquitetos na FAUUSP, desde o início, a minha escola, faz de mim um
profissional realizado com o seu fazer cotidiano. Nesta escola eu tive a
oportunidade de orientar vinte e cinco trabalhos de conclusão de graduação,
quatro trabalhos de iniciação científica, quatro dissertações de mestrado.
Atualmente oriento cinco mestrandos e um doutorando.
Este memorial é complementado com meu
currículo Lattes e segue, em anexo, as comprovações correspondentes