quarta-feira, 21 de julho de 2021




Projeto de Arquitetura: um trabalho coletivo

Texto publicado na Revista Mais/AP nº145 (Clube Alto dos Pinheiros)



Trabalho em equipe é um dos aspectos que caracteriza a profissão do arquiteto. A produção de um projeto arquitetônico não é resultado de inspirações particulares e autoritárias, percepção muitas vezes encontrada na sociedade. O processo de elaboração do projeto nasce de uma demanda, que pode ser privada ou pública, corporativa ou familiar. Em todos eles a presença e participação de vários profissionais.

O primeiro profissional a ser envolvido no processo é o arquiteto que, junto com seu cliente, discute e compreende a demanda.

Assim, define a obra a ser realizada, momento no qual outros profissionais se agregam ao processo constituindo uma equipe pluridisciplinar, especialista em outras áreas que envolvem a produção da obra tais como, engenheiros de estruturas, instalações elétricas, hidráulicas, ar-condicionado, luminotécnica além de outros, conforme a complexidade do que será construído.

A produção de um projeto arquitetônico é a junção de diferentes saberes e atores. Os aspectos mais complexos, por serem subjetivos, são os anseios ou sonhos dos clientes.

Somente a conjunção de todas essas variáveis resultará numa obra de seu tempo, de acordo com as possibilidades geográficas e tecnológicas locais. Para um bom resultado é necessária a interação harmônica e respeitosa entre todos os envolvidos.

Pela minha experiência profissional, considero que uma das variáveis mais importante é a harmonia entre arquiteto e cliente, responsáveis por darem início e continuidade ao processo. No meio profissional existem diferentes posturas a respeito, alguns afirmam que o principal papel da arquitetura é materializar o sonho do cliente, o que reduz o papel da arquitetura e do profissional envolvido. Em contrapartida, Frank Gehry nos ajuda a entender essa situação quando afirma “Não sei porque as pessoas contratam arquitetos e depois dizem à eles o que fazer”.

Neste texto, vou discutir sonhos e anseios do cliente. Muitas vezes me deparei com esses aspectos, alguns consegui entender outros nem tanto.

Numa oportunidade fui procurado para fazer a sede de uma fazenda. Tratava-se de um cliente que já conhecia meu trabalho, o que considerei existir um acordo inicial sobre os resultados a serem obtidos. Entretanto depois dos acertos iniciais, me deparei com a seguinte frase da proprietária - “eu quero uma casa colonial”. O que fazer? Fazer um projeto dito “colonial” estava completamente fora de minhas perspectivas. Em primeiro lugar, procurei entender o que minha cliente entendia por “colonial”; gastei horas explicando o que significava fazer uma casa estilo colonial na atualidade. Numa dessas apresentações descobri que todo interesse pelo colonial vinha do fato dela ter comprado uma porta antiga. Isto posto, daí em diante tudo ficou mais claro, o projeto resultou num projeto atual, uma estrutura de concreto apoiada em 4 pilares. A porta passou a ser um objeto de arte numa casa moderna.

Num outro momento, em outro projeto, não consegui entender e atender o sonho de meu cliente. Depois de uma série de estudos preliminares fui percebendo que não conseguiríamos estabelecer uma relação amistosa. Percebi que seria o caso de indicar outro colega que poderia chegar aonde não cheguei. Dito e feito, o projeto dele foi aceito sem grandes discussões e a obra se realizou.

Resumindo, fazer arquitetura não é fácil. Nos próximos textos pretendo discutir outros aspectos do trabalho coletivo, ou em equipe.