sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Um Banheiro

Em 2015 iniciei a reforma de um apartamento. Esse apartamento na época da construção do edifício (1985) já havia sido adaptado por mim às necessidades do cliente. Muitas vezes fui chamado a rever projetos que havia feito há alguns anos, neste caso, passados 30 anos, alguns aspectos já haviam se tornado obsoletos, tais como banheiros e cozinha. Na revisão de um dos banheiros sugeri que fizéssemos um painel especial. Para tanto, propus a participação do artista arquiteto e artista plástico Silvio Dworeki, amigo há muitos anos e colega de trabalho na FAUUSP. O resultado foi excepcional e gostamos muito de fazer. Nosso cliente ficou muito satisfeito e nós também com o resultado. As fotos abaixo mostram um pouco desse trabalho. As fotos abaixo, realizadas no banheiro ainda em obras. O apartamento ficou pronto no início da pandemia. Ainda não foi possível atualizar essas fotos.








Projeto desenvolvido pela minha equipe: Arqtª Priscilla Goya e Arqtº Erick Santos

Espaço urbano e fiação elétrica aérea

 

Texto Publicado na revista MAIS/ Clube Alto dos Pinheiros nº148

Quando pensei em falar sobre a fiação aparente me ocorreu introduzir uma foto para reafirmar o que queria salientar. Depois, andando pela cidade, conclui que a situação é tão recorrente e visível nas diferentes regiões de São Paulo que a introdução de uma foto seria irrelevante.

Os postes de transmissão de energia elétrica e iluminação pública existentes passaram a ser, nos últimos anos, suporte para outros serviços tais como cabos de telecomunicação acarretando grave poluição visual, a qual, além da questão estética das cidades, contribuem com a má qualidade dos serviços dessas concessionárias. Furtos de fios, vandalismos e diversas forma de acidentes são recorrentes e provocam insegurança da população. Grande parte desses acidentes são provocados pela forma com que as árvores existentes são tratadas por meio de podas que priorizam a fiação e destroem a estrutura da vegetação.

A fiação aérea apresenta muitas desvantagens quando comparada com as redes de distribuição subterrâneas. O cabeamento elétrico aéreo é adotado por ter um custo menor de instalação embora os custos de manutenção sejam mais elevados. Em contrapartida, o cabeamento subterrâneo, embora tenha custo inicial mais elevado, reduz os problemas citados.

As grandes capitais do mundo, mais estáveis em seu processo de crescimento, adotam as redes subterrâneas. São Paulo, uma cidade que no início do século XX tinha menos de 300 mil habitantes chega ao século XXI com 12 milhões (região metropolitana – 21,50 milhões), teve um crescimento violento e desordenado assim como a distribuição de energia elétrica. Não se pode comparar com cidades como Paris que nos anos de 1900 já tinha uma população de 1 milhão e atualmente conta com 2,1 milhões de habitantes (região metropolitana - 10 milhões), onde, atualmente a fiação é praticamente toda subterrânea.

Em São Paulo, o processo de aterramento da fiação começou nos anos de 1940, entretanto, segundo a Eletropaulo, em 2019 somente 7 % da cidade tinha fiação subterrânea. No ano de 2005 houve a intenção de tornar obrigatório o aterramento do cabeamento por meio da Lei nº 14.023 de 2005 do Município de São Paulo, entretanto essa lei não foi implementada em função de demandas judiciais. Em 2017 a Prefeitura de São Paulo, mais uma vez, procura providenciar o aterramento da fiação por meio do “Programa São Paulo sem Fio”. Esse programa, após diálogo com as concessionárias de energia e de telecomunicação, consegue o aterramento de 65,2 km de redes aéreas e a retirada de 3.014 postes, beneficiando 170 vias da cidade requalificando algumas regiões e áreas centrais.

 

Atualmente tramita na Assembleia Nacional o Projeto de Lei 88/21 fixando o prazo de dez anos para que as concessionárias de energia elétrica e de telefonia providenciem a fiação subterrânea.

Isto posto, trata-se de um assunto em discussão na sociedade, fundamental para a melhoria dos espaços urbanos e para a segurança da população. Como sou otimista, acredito que São Paulo pode vir a ser uma cidade muito bonita.

 

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

O Pedestre na Cidade de São Paulo

 

A calçada sobe na árvore 

O pedestre é constantemente desrespeitado no seu direito de livre trânsito, principalmente no que diz respeito às calçadas. A situação piora quando pensamos em pessoas com necessidades especiais; cadeirantes dificilmente conseguem circular pela cidade. Estamos acostumados a ver calçadas acidentadas, inclinações além do razoável, destruídas por raízes de arvores, com degraus, usadas como estacionamentos de veículos e tantos outros problemas. É inacreditável que numa cidade como São Paulo as calçadas estejam tão abandonadas.

Em nossas calçadas podemos sofrer acidentes graves o que nos faz perguntar: quem é responsável pela execução e manutenção delas, considerando sua importância para a mobilidade urbana?

Grande parte da população reclama das condições das calçadas e, entretanto, não se dão conta de que os responsáveis somos todos nós enquanto cidadãos, como se o problema fosse somente dos órgãos públicos e como se não houvesse legislação pertinente. Entretanto, existem várias leis e decretos que regulamentam a execução e manutenção das calçadas desde tipo de pavimentação, dimensões mínimas, inclinações e responsabilidades.

Grande parte da população não conhece os seus direitos garantidos pela legislação. Na cidade de São Paulo, legalmente a execução e manutenção da calçada em frente a um imóvel é responsabilidade de seu proprietário, ou seja, caso ocorra um acidente grave em função de má conservação o proprietário poderá ser processado e arcar com os custos do problema provocado.

A Prefeitura, com o objetivo da padronização das calçadas, estabeleceu o decreto nº 58.611(24/01/2019) que reforça esse aspecto e propõe soluções para as calçadas no sentido de melhorar a mobilidade urbana. Esse decreto não tem caráter punitivo, mas caso a fiscalização, apoiada em lei anterior que determina regras sobre muros, passeios e limpeza, pode notificar o proprietário para regularizar a situação (Lei nº 15.733/2013). Importante salientar que o prazo para tanto é de 60 dias e caso a regularização não se concretize a multa é de R$ 439,66 por metro linear. Por exemplo, para um lote normal aqui na City Pinheiros, com cerca de 15 metros de frente, a multa seria de R$ 6.594,90. A prefeitura publicou uma cartilha que orienta a execução das calçadas. Os cidadãos poderão contatar a Prefeitura para fazer questionamentos ou registrar queixas por meio dos canais de atendimento: telefonar para o 156, registrar a reclamação nas Praças de Atendimento das Subprefeituras

A livre circulação de pessoas é garantida por legislações federal, estadual e municipal e, para que essa locomoção ocorra de forma segura, é necessário garantir o cumprimento não apenas das normas de trânsito, mas também daquelas relacionadas ao fluxo de pedestres. A legislação pertinente pode ser consultada no site da prefeitura. Essas normas, decretos e leis foram elaboradas pensando na democratização da cidade e na liberdade de ir e vir de todos os cidadãos, para que os passeios públicos possam cumprir o seu papel: possibilitar o livre trânsito das pessoas - tenham elas alguma deficiência, mobilidade reduzida ou não.

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Memorial Circunstanciado - Concurso Livre Docência

Concurso realizado em 2012 na FAUUSP
Banca:
Profa. Dra. Sheila Orstein ( presidente da banca)
Profa. Dra. Heliana Comin Vagas
Prof. Dr. Roberto Heloane
Prof. Dr. Afonso Fleury
Prof. Dr. Fabio Guerrini

Memorial Circunstanciado

 Nasci em Boa Esperança do Sul, uma pequena cidade ao lado de Araraquara, para onde me mudei junto com minha família, quando tinha 3 anos.

Comecei meus estudos no Colégio Progresso de Araraquara, onde iniciei o pré-primário e, em seguida, o primário. A escola particular apresentava-se como a melhor opção, naquele período, em termos de qualidade.

Filho mais novo, temporão, entre quatro irmãos; perdi minha mãe quando tinha quatro anos, meus irmãos muito mais velhos do que eu, de certa forma, assumiram a orientação de minha educação.

A escolha da escola primária coube à minha irmã, que já era professora primária. Meu pai, filho de imigrantes, fazendeiro, não tinha condições de realizar essa escolha, mas tinha total confiança nas orientações de sua filha professora.  

Apesar da pouca inclinação para a música, estudei piano durante dois anos, sem que realmente tivesse me envolvido, dado o desinteresse que demonstrava na sua aprendizagem; no entanto, sempre gostei muito de ouvir música.

Iniciei, já no ginásio, estudos complementares – inglês, na União Cultural Brasil-Estados Unidos e francês, na Aliança Francesa-.

O curso secundário (ginásio e colegial) realizei no Instituto de Educação Bento de Abreu, escola pública, também considerada a melhor escola possível em Araraquara. Mesmo assim, sempre me foi proporcionado cursos complementares  com a preocupação de enriquecer o conteúdo básico aprendido, assim como, preencher lacunas existentes.

O curso universitário não foi uma opção; era entendido como uma obrigação a ser cumprida. Além disso, havia um compromisso do meu pai assumido com minha mãe que eu também cursaria o ensino superior. Entretanto, sempre me foi dado liberdade para optar pelo curso que mais me interessasse; embora, penso, era esperado que eu fizesse agronomia, assim como meus outros dois irmãos, engenheiros agrônomos, formados pela Escola Agrícola Luiz de Queiroz – USP. O vínculo familiar com a terra era e é muito forte. Numa família de fazendeiros e agrônomos, um arquiteto! O que nos une, além dos laços afetivos, era o CREA – Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura. Agora, com a criação do CAU – Conselho de Arquitetura e Urbanismo, não mais.

A minha opção inicial era fazer Politécnica / USP, posto que, desde criança eu queria ser “engenheiro de fazer casa”, e no universo araraquarense esse desejo se concretizaria na Poli ou no Mackenzie e se intitulava engenharia civil.

O ensino em Araraquara tinha algumas limitações, principalmente em disciplinas básicas para o vestibular, tais como física, química, desenho geométrico. Em função disso, considerando que pretendia me inscrever em  vestibulares concorridos, minha família, assim como as famílias de mais dois colegas – Silvio Roberto de Azevedo Salinas e José Péricles Freire Jr – nos enviaram para São Paulo para fazermos o 3º ano colegial, em 1960. Concomitantemente, deveríamos fazer um cursinho pré–vestibular. Para tanto, foi escolhido o Curso Anglo Latino. Salinas e eu conseguimos transferência para o Colégio Estadual Presidente Roosevelt, onde cursamos o 3º científico,  no período noturno.

Mudei para São Paulo com dezesseis anos de idade, sem a companhia de minha família, vivendo de mesada, morando em pensão, num mundo diferente, desconhecido, sem telefone. Foi, antes de tudo, uma “trombada”. O que deixou esse primeiro período um pouco mais fácil foi ter morado com meus outros dois amigos araraquarenses.

Os primeiros tempos foram muito difíceis, mas muito importantes também. Foram novos professores, novos assuntos e, principalmente, descortinou-se para mim um novo mundo. Descobri que para ser “engenheiro de fazer casas” era melhor fazer o curso de arquitetura, profissão totalmente desconhecida até então para mim. O único arquiteto que existia em Araraquara era o arquiteto Nelson Barbieri, lá conhecido como engenheiro. Para tanto, contei com a confiança, o apoio e respeito de minha família.

Apesar de ter estudado pouco as disciplinas ministradas no cursinho pois  o científico no Roosevelt, praticamente, absorvia todo o tempo disponível, passei no vestibular da FAUUSP, na primeira tentativa. Acredito que nessa empreitada fui ajudado pelo fato de estar muito tranqüilo. Acreditava estar mal preparado e tinha a certeza que iria refazer o cursinho no ano seguinte. Não fiz o vestibular do Mackenzie, pois como não era minha primeira opção, achei que, mal preparado como me sentia, seria perder tempo.  Entretanto, como costumo dizer, “para massagear o ego”, me inscrevi no vestibular do curso de matemática da USP, vestibular que eu considerava mais fácil (eu sempre tinha tipo muita facilidade nessa disciplina). Fiz as provas escritas, nas quais consegui notas altas. Nesse meio de tempo, saiu o resultado da FAU, o que me fez desistir de fazer as provas orais naquela escola. Naquele tempo era possível realizar vestibular em diferentes cursos na USP, no mesmo ano.

Quando entrei na FAUUSP tinha 17 anos. Ter iniciado o curso com tão pouca idade fez com que eu fosse um aluno aplicado, embora, vejo hoje, tenha perdido muito do que a FAU poderia ter me proporcionado em termos políticos, sociais e até mesmo culturais. Eu me sentia expectador dos acontecimentos que foram efervescentes política e culturalmente (1961/1965).

Ao sair da FAU, conseqüentemente ainda muito jovem, queria arrumar um “emprego” a todo custo. Desde o 4º ano da escola, junto com colegas, tanto da FAUUSP como da FAU Mackenzie, havia montado um “escritório” – Exercitávamos o desenho.

Consegui o aguardado emprego na Villares – Elevadores Atlas – em 1966. Lá fiquei um único dia, tal foi o susto! Saíamos da FAU para ser “Artigas” ou “Niemeyer” e não para vender elevadores!

Logo em seguida consegui realizar meu primeiro projeto junto com Joaquim Barretto, amigo araraquarense – uma residência em Ribeirão Preto - um grande alento nesse período de desorientação frente a uma carreira que se iniciava, num ambiente de incertezas.

 



Residência MM/ Ribeirão Preto, 1966 /Foto do Autor

 








Ainda assim, procurava “emprego”! Eu queria ser independente financeiramente. Trabalhei na Construtora Bonfiglioli durante oito meses, realizando um trabalho sem graça e desgastante, porém determinante para minha opção pelo trabalho liberal que já começava a se desenvolver, de forma gradativa, em sociedade com o arquiteto Joaquim Barretto.

Quando fui trabalhar na Prefeitura de São Paulo, em 1967, no Departamento de Parques e Jardins (emprego de meio período) já era mais clara a opção profissional. Eu precisava de uma renda fixa para manter o escritório.

O trabalho na prefeitura me trouxe muita satisfação. O Departamento de Parques e Jardins produzia projetos que, de fato, seriam executados. O grupo de profissionais era muito jovem, quase todos recém formados. Fomos contratados dentro de uma proposta maior desenvolvida pelos arquitetos – Rosa Kliass, Miranda Magnoli, Julio Katinsky –. Na ocasião, elaboravam o Plano de Áreas Verdes de São Paulo[1].

Éramos jovens, com muito a aprender e com muita garra. Trabalhávamos em equipe. Assim, junto com as arquitetas Lucia Porto e Vera Serra, fizemos trabalhos muito gratificantes. Obtivemos com nossos projetos dois prêmios de paisagismo: Prêmio do Salão Paulista de Belas Artes e Prêmio de Paisagismo do IAB.



Praça Vinicius de Morais, antiga Praça Barão de Pirapama

Fonte: ROBBA, F. MACEDO, S.S. Praças Brasileiras São Paulo: EDUSP, 2002, pág. 102

 

 













Nesse período comecei a me interessar em voltar a estudar, voltar para a universidade. Cursei, em 1968 na FAUUSP, um curso de pós-graduação com o Prof. Dr. Nestor Goulart Reis e iniciei o mestrado na Escola Politécnica, na Área de Planejamento. O curso de pós-graduação da FAUUSP ainda não se encontrava estruturado.

Não me envolvi com os cursos oferecidos pela Politécnica, distantes da área de meu maior interesse – a edificação. Somente retomei o mestrado em 1978, agora na FAUUSP, orientado pelo Prof. Dr. Siegbert Zanettini.

Em 1970, indicado por um colega, também arquiteto do Departamento de Parques e Jardins – Milton Pelliciotta -, entrei em contato com o grupo que estruturava a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Fundação Paraibana de Ensino, em São José dos Campos. Dessa maneira, voltei para a “escola”, agora como professor assistente do arquiteto Paulo Bastos, na disciplina de Projeto da Edificação.

A experiência realizada em São José dos Campos foi muito rica, tanto pela oportunidade de retomar os estudos, agora na qualidade de professor, como de desenvolver novas opções de trabalho. Além disso, esse período iniciado em 1971 e que duraria até 1973, propiciou amizades que muito influenciaram minhas opções profissionais e políticas a partir de então. Paulo Bastos, Mayumi Souza Lima, Plácido Campos, Dalton de Luca, Ricardo Ohtake, Ana Maria Belluzzo, José Eduardo Lefebvre, foram amigos e colegas muito importantes nesse período. Alguns alunos da primeira turma, tais como Pedro Moreira Ribeiro, Marcelo Ferraz, “Passoca”, Vicenzo Colona, Guto Lacaz, tornaram-se amigos até hoje.

Em meados de 1973, em função de problemas  internos da escola, assim como conjunturais e políticos, alguns colegas e eu deixamos São José dos Campos, em solidariedade a Paulo Bastos.

A semente estava plantada, o trabalho docente passou a fazer parte de meus interesses. Assim que deixei São José dos Campos, iniciei trabalho semelhante na FAU Mackenzie, como professor na disciplina Projeto de Edificações, no 4º ano do curso, junto com o arquiteto Prof. Hoover Sampaio e, em seguida, com o arquiteto Prof. Teru Tamaki. Nesse período, em função da falta de professor de paisagismo e considerando minha experiência anterior, me foi solicitado assumir aulas de paisagismo, logo substituído pela Profa. Dra. Maria Assumpção, que na época iniciava sua carreira docente.

Concomitantemente com as atividades docentes, o escritório ainda em sociedade com o arquiteto Joaquim Barretto, continuava  se desenvolvendo. Entretanto, no final de 1979, sérias dificuldades financeiras foram provocadas pelo desenvolvimento de um grande projeto na Costa do Marfim, na  África. Após dois anos de trabalho coordenando uma equipe de seis pessoas entre arquitetos e estagiários, fomos informados que os honorários não seriam pagos, ou melhor, somente receberíamos 20% do valor acordado.

Desanimado com o escritório, imaginei que se voltasse a ser um profissional assalariado e bem pago, seria “feliz para sempre”. Ledo engano! Nesse ano, fui assessor da empresa moveleira Securit S/A para elaboração de projetos de layouts para escritórios. Eu o considero como um dos piores anos de minha vida profissional.

Essa interrupção da atividade liberal, apesar de ter sido dolorida, significou um recomeço em outras bases, rico em experiências e muito mais seguro em termos profissionais.

No início de 1981 deixei a Securit S/A e reorganizei meu escritório, agora sozinho. Contei para tanto com a compreensão de minha família, nesse momento, constituída por Liliana, minha mulher desde 1974, e filhos – Mateus, e Marina, André que nasceria no ano seguinte.

Nesse reinício de atividades, um amigo, companheiro de nossa aventura na África, Tarcísio B. de Souza Santos, teve também um papel importante ao me ceder um espaço em seu escritório de assessoria em economia. Além de voltar às atividades liberais, já começava a me preocupar com as relações de trabalho do arquiteto e em 1999 participei da chapa eleita para diretoria do Sindicato dos Arquitetos de São Paulo. 

Durante todo esse tempo de atividade docente, sempre esteve presente o desejo de voltar à FAUUSP. Em 1984, após processo seletivo, ingressei no Departamento de Tecnologia da Arquitetura dessa escola, para ministrar, em tempo parcial – RTP -  a disciplina atualmente denominada AUT 520 – Prática Profissional e Organização do Trabalho.

Essa disciplina, na época era desenvolvida conjuntamente com o Prof. Dr. José Luiz Fleury de Oliveira e era vista pelos alunos como uma tarefa enfadonha a ser cumprida. Desde o início, trata-se de uma disciplina obrigatória colocada no último ano da graduação e era conhecida pelos alunos como “legislação”, embora tivesse objetivos mais amplos. Embora a ementa dessa disciplina tenha sido pouco alterada, o enfoque principal, naquele momento, era apresentar a legislação vigente, tanto a que envolve as atribuições, direitos e deveres do arquiteto, como a legislação de uso do solo. Desde o início, minha preocupação foi introduzir na discussão desses aspectos os problemas que os novos arquitetos encontrariam no processo de sua inserção profissional, as incoerências, os conflitos e as diferentes maneiras de entender a legislação, bem como o papel que o arquiteto desempenha no processo de mudanças sociais e desses paradigmas. Atualmente, divido essa disciplina e seus conteúdos com a Profa. Dra. Rosária Ono.  Cabe à mim a análise dos aspectos que envolvem o exercício profissional do arquiteto; a Profa. Rosária discute os aspectos que envolvem a produção da edificação – legislação edilícia e de uso do solo.  

 A prática profissional, enquanto disciplina de estudo e pesquisa, até então, não havia sido por mim devidamente compreendida, identificada. Surpresa foi perceber que as indagações que permeavam meu trabalho encontravam-se nesse universo.

A Dissertação de Mestrado, defendida em 1986, intitulada  Racionalismo, Arquitetura e Capitalismo”, orientada pelo Prof. Dr. Siegbert Zanettini, expressa essas questões.  O objetivo deste trabalho é compreender as circunstâncias econômicas, sociais e políticas que permeiam as possibilidades de elaboração do projeto arquitetônico e, para tanto, usei como objeto de estudo projetos desenvolvidos por mim no período 1966 a 1986. Naquele momento, eu  completava 20 anos de formado.

Durante 6 anos fui representante da FAUUSP junto ao CREASP participando da Câmara de Arquitetura, atividades estreitamente ligada aos conteúdos da disciplina ministrada. Ainda em atividades ligadas às minhas tarefas didáticas, fui representante da FAUUSP  junto à Secretaria Municipal de Habitação participando das consultas públicas à comunidade no processo de elaboração de novo Código de Obras, na Gestão Mario Covas.

Em 1990, com o objetivo de me envolver com maior qualidade nas atividades de ensino e pesquisa, solicitei e fui aceito como professor em regime de RTC – Regime de Turno Completo.

O aprofundamento dessas mesmas indagações resultou em minha Tese de Doutorado intitulada “A “Prática Profissional do Arquiteto em Discussão”, defendida em 2002, orientada pelo Prof. Dr. Ualfrido Del Carlo. O objetivo dessa tese foi analisar a prática profissional do arquiteto e a relação que a produção do projeto arquitetônico, entendido como expressão da arte e da técnica, estabelece com o mercado. O objeto de pesquisa analisado foi constituído por depoimentos e entrevistas de 206 arquitetos, selecionados em 91 exemplares da Revista AU – Arquitetura e Urbanismo, no período de 1985 a 2000. Esse período é particularmente significativo porque nesses quinze anos são observadas mudanças relevantes com implicações no trabalho do arquiteto,  como a intensificação do fenômeno social, econômico e político denominado globalização e a difusão da informática, alterando a produção do projeto. No plano político nacional significa o término do período militar. A hipótese norteadora desta pesquisa é que a tensão entre arte, técnica e mercado, observada na prática profissional do arquiteto, desde o Renascimento, se intensifica nesse contexto.

No final de 1998, fui convidado por um cliente (para quem eu estava projetando uma residência), para coordenar um curso de arquitetura e urbanismo numa universidade de sua propriedade. Tratava-se do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Bandeirante de São Paulo – UNIBAN, Já existente há cerca de dois anos. Num primeiro momento, minha resposta foi: “eu não tenho tempo disponível para assumir um curso”. Entretanto, após algum tempo, seduzido pela possibilidade de montar um curso de arquitetura e urbanismo como eu gostaria e com a promessa que assim seria, aceitei a empreitada e iniciei minhas atividades no início de 1999. Uma das condições para assumir essa tarefa era não ter horário pré-definido, para que não houvesse limitação às minhas atividades já em curso (meu escritório e a FAUUSP)e, ter liberdade para montar o curso da melhor maneira possível. Naquele momento, eu sabia que meu trabalho teria limitações, tais como: cursos de meio período (um matutino e outro noturno), inseridos em uma instituição privada empresarial e com alunos de origens sociais, econômicas e culturais diferentes dos alunos tanto da FAUUSP como da FAU Mackenzie. De fato, nos três primeiros anos tive “carta branca” e montei, com a ajuda da arquiteta Paula Katakura, um curso que acreditávamos adequado e eficiente para o alunado que tínhamos. Entretanto, no 4º ano de minha permanência naquela instituição, após o reconhecimento do curso de Arquitetura por parte do MEC, com uma nota razoável para aquela conjuntura – seis -, deixei de ter a liberdade até então existente. A situação de trabalho deixou de ser prazerosa, as atitudes desrespeitosas se multiplicaram, me deixando sem vontade de continuar. Deixei aquela instituição no final de 2002.

Nesse momento,  eu já havia defendido minha tese de Doutorado, o que permitia maior envolvimento com a FAU. O título de doutor permitia participar mais efetivamente na instituição, quer seja em pesquisa e docência, como em comissões e outras atividades administrativas.

No segundo semestre de 2001, por solicitação do Departamento de Projeto, convidado pelo Prof. Dr. Sylvio de Barros Sawaya, então Coordenador do Grupo de Disciplinas de Projeto, passei a colaborar com esse departamento na Disciplina AUP 0152 - Projeto IV (2º semestre de 2001). A partir de então, passei a trabalhar junto a esse departamento em disciplinas afins, o que faço até a presente data. Atualmente ministro, juntamente com o Prof. Dr. Fabio Mariz Gonçalves, uma disciplina experimental, ainda alocada no departamento de projeto – Estágio Supervisionado -, a qual passará a ser uma disciplina interdepartamental no próximo semestre (1º semestre de 2012). 

Desde o final dos anos 1990 participo da comissão que organiza e orienta o TFG – Trabalho Final de Graduação e, durante algum tempo,  coordenei essas atividades, que constituíam uma disciplina do Departamento de Projeto (AUP 604).

A partir de junho de 2003, por minha solicitação, passei a me dedicar à FAUUSP em RDIDP – Regime de Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa. A partir desse momento a carreira do professor/pesquisador assume importância maior do que a do arquiteto liberal.

Ainda nesse ano, convidado pela Companhia City de Desenvolvimento, estive nos Estados Unidos com o objetivo de conhecer a teoria que embasa o movimento chamado “New Urbanism”. Para tanto, autorizado pela FAUUSP, tive a oportunidade de participar de uma experiência de trabalho junto ao escritório de arquitetura e urbanismo – DPZ – Duany Plater – Zyberk & Company, um dos mais importantes escritórios que trabalhavam nessa perspectiva teórica. Era um momento de procura de novos campos de pesquisa.

Também em 2003, tive a oportunidade de participar da elaboração do Programa de Dupla Formação FAU/POLI. Foi uma experiência muito gratificante, tanto pela convivência com colegas com os quais nunca havia trabalhado - Profa. Dra.  Heliana Comim Vargas, Prof. Dr. Paulo Bruna, Prof. Dr. Francisco Cardoso, Prof. Dr. Henrique Lindenberg Neto, entre outros, como  pela oportunidade de participar de uma experiência inovadora na Universidade de São Paulo - a criação de um programa inter institucional para formação de um profissional com conhecimento ampliado, nas duas instituições.

A experiência na UNIBAN, embora desgastante no último ano de atividade, foi para mim de grande importância para conhecer melhor o ensino superior no Brasil e, conseqüentemente, as propostas de diretrizes já existentes para os cursos de arquitetura e urbanismo.

Desejando me aprofundar nessa perspectiva – ensino de arquitetura e urbanismo no Brasil -, comecei a participar dos encontros e congressos da ABEA – Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo, o que tenho feito nestes últimos anos. A formação do Arquiteto é um dos temas de minhas pesquisas, atividades de docência e extensão, somada ao exercício da profissão.

Esse gradual processo de envolvimento com o ensino da arquitetura e urbanismo, me fez compreender que seria necessário conhecer outros cursos de Arquitetura e Urbanismo no país, o que pude fazer na medida em que passei a fazer parte do quadro de avaliadores do INEP/MEC (hoje EMEC).

Assumir a coordenação da COCAU – Comissão de Coordenação do Curso de Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP foi uma conseqüência. Quando solicitado a fazê-lo, acreditei que, em função das atividades que vinha desenvolvendo, estava em condições de assumir mais essa tarefa.

A partir da mudança de meu regime de trabalho, minhas atividades na FAU foram acentuadas, a pesquisa desenvolveu-se e resultou em publicações e participações em eventos acadêmicos. Meus projetos de pesquisa têm como universo de indagação a profissão o arquiteto e a produção do projeto arquitetônico.

Num primeiro momento, minha preocupação era o papel e a condição do arquiteto num mundo globalizado; essa pergunta me levou a conhecer melhor a situação da profissão, principalmente na Europa, e alimentou minhas aulas na pós- graduação. Num segundo momento, passei a olhar o projeto arquitetônico frente às discussões que se estabelecem a respeito da qualidade do projeto arquitetônico. Assim, passei a ser chamado para participar  de alguns encontros na medida em que me contrapunha com as propostas que  pretendiam tratar da qualidade do projeto arquitetônico e se limitavam à qualidade do produto do projeto – desenhos normatizados, equalizações com projetos complementares, racionalização de materiais, etc. Percebi então que essas discussões nada acrescentavam a qualidade do projeto enquanto produto cultural, visando o usuário e não o lucro, inserido no seu tempo. Minhas atuais preocupações se encontram em questões que se referem ao mercado de trabalho e ao conteúdo de projetos elaborados para mercado.  

Nesse processo, em colaboração com a Professora Doutora Ângela Rocha, montamos dois grupos de pesquisa junto ao CNPq, com a participação de outros colegas, bem como de nossos alunos de pós-graduação. Esses Grupos de Pesquisa são liderados por mim e pela Profa. Dra. Ângela Rocha e se denominam Processo de Produção da Arquitetura e do Urbanismo e Representações de suas Metodologias.

Além das atividades de pesquisa, participei e continuo participando de diversos órgãos administrativos. Atualmente sou titular, no Conselho do Departamento de Tecnologia, membro da Comissão de Graduação, como representante de meu departamento de origem, sou membro da CCINT/FAU - Comissão de Cooperação Internacional da FAU, além de ser representante da Comissão de Graduação na COCAU, da qual sou  coordenador desde 2009.

Também participei, a pedido de alguns colegas da FAU, entre eles o Prof. Dr. Wilson Jorge, da diretoria da FUPAM – Fundação para a Pesquisa Ambiental, órgão fundado pelos professores da FAU. Fui presidente dessa fundação durante 4 anos, uma tarefa difícil num momento em as fundações de auxílio à universidade vinham sofrendo ataques tanto de professores como de alunos. No período em que estive na presidência dessa fundação percebi que precisaríamos fazer alguma coisa além da simples transferência de recursos à Universidade e à FAU. Tive a oportunidade, apoiado pela diretoria, de criar um fundo especial para a criação de bolsas de Iniciação de Científica  destinadas aos alunos de graduação. Atualmente, a FUPAM mantém o trabalho de cinqüenta  bolsistas, selecionados e cumprindo regras semelhantes às utilizadas pela FAPESP. 

Por solicitação do Prof. Dr. Ricardo Toledo, então diretor da FAUUSP, assumi a coordenação da CCINTFAU – Comissão de Cooperação Internacional da FAUUSP - em  2005. Naquele momento,  as possibilidades de nossos alunos complementarem sua formação no exterior eram bastante pontuais e, esporádicas. Em maio de 2005, contávamos com dois alunos estrangeiros cursando algumas de nossas disciplinas e tínhamos somente dois de  nossos alunos no exterior. Quando deixei a coordenação desse órgão, em 2010, tínhamos cinqüenta e um alunos estrangeiros em nossa escola e cinqüenta e dois alunos da FAUUSP no exterior. Atualmente, substituo o Prof. Dr. João Sette Whitaker nessa coordenação em função de sua permanência no exterior.

Coordeno também alguns convênios com escolas européias, sendo três escolas francesas e uma portuguesa – ENSA -École Nationale Supérièure d’Architeture Paris - La Villete, ENSA - École Nationale Supérièure d’Architeture Paris - Val de Seine e ENSA - École Nationale Supérièure d’Architeture Paris –Belleville, na França, e a Escola de Arquitetura do ISCTE – Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, em Lisboa. Esses convênios foram frutos de oportunidades que tive ao entrar em contato com essas escolas que demonstram  grande interesse nos convênios que estabelecem conosco.

Durante toda minha vida acadêmica junto a FAUUSP, tenho ministrado a disciplina atualmente denominada AUT 0520 – Prática Profissional e Organização do Trabalho. A partir do início de 2006, passei a ser responsável pela disciplina AUT 05830 – A Profissão do Arquiteto / Desafios e Perspectivas -   ministrada no curso de pós-graduação. Os conteúdos ministrados nessa disciplina se referem à pesquisas que venho desenvolvendo e tem como objetivo geral discutir a profissão e a inserção do arquiteto na sociedade, destacando a produção do projeto arquitetônico. Para tanto, procura aprofundar o conhecimento sobre a prática profissional do arquiteto e suas relações com a produção do projeto e do espaço construído; discutir o trabalho do arquiteto enquanto uma atividade freqüentemente marcada pela noção de métier e pela sua antítese, a noção de mercado; estudar a intrusão da "lógica comercial" na produção do projeto arquitetônico a qual se desenvolve tendo o mercado como referência; discutir o mercado de trabalho do arquiteto e sua produção em múltiplas dimensões: utopia, arte, mercadoria; estudar as contradições, presentes no processo de produção do projeto arquitetônico, relacionadas ao mercado, como a crescente competitividade no contexto da globalização; as formas e importância que o marketing assume no trabalho do arquiteto; a compreensão por parte do profissional arquiteto de sua produção enquanto negócio, geradora de lucro e da apropriação do trabalho de outros profissionais e trabalhadores. Além disso, discutir a relação do arquiteto com o cliente em suas diferentes dimensões e nas mais diversas formas; ora como mecenas, ora como usuário que o arquiteto tem a missão de "educar", ora como usuário a ser atendido, respeitado, interpretado pelo profissional arquiteto, ora como consumidor necessário à realização do projeto.

Fui ainda convidado a participar de outras disciplinas, tanto do meu departamento (AUT 512 – Desenho Arquitetônico) como do Departamento de Projeto. Assim, colaborei nas disciplinas: AUP 148 Projeto III, AUP 142 Projeto II e AUP 608 Fundamentos de Projeto. As solicitações de colaboração com o departamento de projeto é resultado de minha experiência, tanto na elaboração de projetos arquitetônicos como responsável por disciplinas de ensino de projeto, resultado de minha experiência em São José dos Campos e  no Mackenzie.

Também desenvolvi atividades de extensão e prestação de serviços à comunidade. Fui convidado pela FDTE – Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia a ministrar curso de preparação e complementação de conhecimentos na área da metodologia do projeto; responsável pela disciplina – Metodologia de Projeto Arquitetônico – no programa PROMINT.

Por meio da FUPAM, fui coordenador dos cursos: Iluminação na Arquitetura, Planejamento e Projetos de Restaurante e junto com a arquiteta Dra. Rosa Kliass, participei do Curso intitulado Programa de Capacitação de professores de Arquitetura Paisagística – Módulo III – Elementos construídos e detalhamento técnico.

A partir do momento em que passei a ser professor em tempo integral, minhas atividades de projeto na qualidade de arquiteto liberal perderam a relevância e a constância que tiveram outrora; no entanto, nesse período, colaborei com a elaboração de alguns projetos, por meio da FUPAM. Cito, por exemplo, o Projeto para o Parque Tecnológico de São Paulo, desenvolvido segundo coordenação do Prof. Dr. João Steiner, então diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP e financiado pela FAPESP.



Estudo preliminar do projeto Parque Tecnológico de São Paulo, 2009

 








Além desse trabalho, tive a oportunidade de participar do Plano Diretor da cidade de Jaú no Estado de São Paulo, do projeto do Poupa Tempo de Cidade Ademar em  São Paulo.

Também nesse período passei por uma experiência muito gratificante para um arquiteto já não tão jovem. Rever e recuperar trabalhos elaborados há muito anos. Assim, fui chamado, na gestão da Prefeita Marta Suplicy, por um ex-aluno – Marcos Cartum – para rever e reelaborar o projeto da Praça Cidade de Milão, inicialmente elaborado em 1970 pela minha equipe de trabalho no  Departamento de Parques e Jardins.

Fui chamado também para orientar a recuperação e restauração de um dos meus projetos que considero relevante na minha carreira – Igreja Paróquia Mãe do Salvador - conhecido como Igreja da Cruz Torta. Projeto inicial datado de 1972, desenvolvido juntamente com o arquiteto Joaquim Barretto (falecido em 1985). Atualmente, encontrava-se em processo de degradação preocupante. Venho elaborando essa assessoria gratuitamente no sentido de preservar uma obra que foi muito importante no meu desenvolvimento profissional e que já se tornou parte da cidade. No altar, um painel de autoria da artista plástica Maria Bonomi, que também participa do processo de recuperação da igreja. 




Igreja da Cruz Torta, painel de autoria de Maria Bonomi, 1972. Foto do autor.

 







Concluindo, destaco que me formei arquiteto, sempre estive muito envolvido nesta profissão que ainda tem muito a colaborar com a qualidade de vida da população brasileira. Tive a oportunidade de elaborar, na área da edificação, cerca de 700 projetos de arquitetura - estudos e projetos que ficaram no papel e projetos edificados-. No entanto, eu me descobri um professor e pesquisador, profissão para a qual eu não me preparei, mas que exerço com empenho e prazer. A formação de novas gerações de arquitetos na FAUUSP, desde o início, a minha escola, faz de mim um profissional realizado com o seu fazer cotidiano. Nesta escola eu tive a oportunidade de orientar vinte e cinco trabalhos de conclusão de graduação, quatro trabalhos de iniciação científica, quatro dissertações de mestrado. Atualmente oriento cinco mestrandos e um doutorando.

Este memorial é complementado com meu currículo Lattes e segue, em anexo, as comprovações correspondentes



[1] Gestão Prefeito José Vicente Faria Lima (1965-69)


quarta-feira, 21 de julho de 2021




Projeto de Arquitetura: um trabalho coletivo

Texto publicado na Revista Mais/AP nº145 (Clube Alto dos Pinheiros)



Trabalho em equipe é um dos aspectos que caracteriza a profissão do arquiteto. A produção de um projeto arquitetônico não é resultado de inspirações particulares e autoritárias, percepção muitas vezes encontrada na sociedade. O processo de elaboração do projeto nasce de uma demanda, que pode ser privada ou pública, corporativa ou familiar. Em todos eles a presença e participação de vários profissionais.

O primeiro profissional a ser envolvido no processo é o arquiteto que, junto com seu cliente, discute e compreende a demanda.

Assim, define a obra a ser realizada, momento no qual outros profissionais se agregam ao processo constituindo uma equipe pluridisciplinar, especialista em outras áreas que envolvem a produção da obra tais como, engenheiros de estruturas, instalações elétricas, hidráulicas, ar-condicionado, luminotécnica além de outros, conforme a complexidade do que será construído.

A produção de um projeto arquitetônico é a junção de diferentes saberes e atores. Os aspectos mais complexos, por serem subjetivos, são os anseios ou sonhos dos clientes.

Somente a conjunção de todas essas variáveis resultará numa obra de seu tempo, de acordo com as possibilidades geográficas e tecnológicas locais. Para um bom resultado é necessária a interação harmônica e respeitosa entre todos os envolvidos.

Pela minha experiência profissional, considero que uma das variáveis mais importante é a harmonia entre arquiteto e cliente, responsáveis por darem início e continuidade ao processo. No meio profissional existem diferentes posturas a respeito, alguns afirmam que o principal papel da arquitetura é materializar o sonho do cliente, o que reduz o papel da arquitetura e do profissional envolvido. Em contrapartida, Frank Gehry nos ajuda a entender essa situação quando afirma “Não sei porque as pessoas contratam arquitetos e depois dizem à eles o que fazer”.

Neste texto, vou discutir sonhos e anseios do cliente. Muitas vezes me deparei com esses aspectos, alguns consegui entender outros nem tanto.

Numa oportunidade fui procurado para fazer a sede de uma fazenda. Tratava-se de um cliente que já conhecia meu trabalho, o que considerei existir um acordo inicial sobre os resultados a serem obtidos. Entretanto depois dos acertos iniciais, me deparei com a seguinte frase da proprietária - “eu quero uma casa colonial”. O que fazer? Fazer um projeto dito “colonial” estava completamente fora de minhas perspectivas. Em primeiro lugar, procurei entender o que minha cliente entendia por “colonial”; gastei horas explicando o que significava fazer uma casa estilo colonial na atualidade. Numa dessas apresentações descobri que todo interesse pelo colonial vinha do fato dela ter comprado uma porta antiga. Isto posto, daí em diante tudo ficou mais claro, o projeto resultou num projeto atual, uma estrutura de concreto apoiada em 4 pilares. A porta passou a ser um objeto de arte numa casa moderna.

Num outro momento, em outro projeto, não consegui entender e atender o sonho de meu cliente. Depois de uma série de estudos preliminares fui percebendo que não conseguiríamos estabelecer uma relação amistosa. Percebi que seria o caso de indicar outro colega que poderia chegar aonde não cheguei. Dito e feito, o projeto dele foi aceito sem grandes discussões e a obra se realizou.

Resumindo, fazer arquitetura não é fácil. Nos próximos textos pretendo discutir outros aspectos do trabalho coletivo, ou em equipe.