segunda-feira, 21 de junho de 2010

Pós Graduação / Disciplina AUT 5830

MINHA DISCIPLINA NA PÓS
GRADUAÇÃO
Disciplina AUT 5830
A Profissão do Arquiteto: Organização da Profissão/Desafios e Perspectivas atuais

OBJETIVOS:
Gerais: Discutir a profissão e o histórico da organização do trabalho do arquiteto, além de sua inserção na sociedade, destacando a produção do projeto arquitetônico.
Específicos: Aprofundar o conhecimento sobre a prática profissional do arquiteto e suas relações com a produção do projeto e do espaço construído. Discutir o trabalho do arquiteto enquanto uma atividade freqüentemente marcada pela noção de métier e pela sua antítese, a noção de mercado. Estudar a intrusão da "lógica comercial" na produção do projeto arquitetônico a qual se desenvolve tendo o mercado como referência. Discutir o mercado de trabalho do arquiteto e sua produção em múltiplas dimensões: utopia, arte, mercadoria. Estudar as contradições presentes no processo de produção do projeto arquitetônico com relação ao mercado, tais como a competitividade num contexto mundializado; as formas e importância que o marketing assume no trabalho do arquiteto; a compreensão por parte do profissional arquiteto de sua produção enquanto negócio, geradora de lucro e da apropriação do trabalho de outros profissionais e trabalhadores. Discutir a relação do arquiteto com o cliente em suas diferentes dimensões, ora como mecenas, ora como usuário que o arquiteto tem a missão de "educar", ora como usuário a ser atendido, respeitado, interpretado pelo profissional arquiteto, ora como consumidor necessário à realização do projeto.

JUSTIFICATIVA
A bibliografia existente sobre o trabalho do arquiteto mostra que, na maior parte das vezes, o que se estuda é o resultado do processo de trabalho, deixando de lado as condições que possibilitaram essa produção, na medida em que, os arquitetos constituem uma categoria social que, assim como outras, é definida por sua formação e pelo caráter do seu trabalho. Fazem parte dessa categoria social arquitetos vinculados a diferentes classes sociais, com diferentes possibilidades de inserção profissional. As relações sociais e mercantis que são estabelecidas quando da elaboração do projeto expressam também uma forma de ação no contexto da prática profissional, freqüentemente marcada pela noção de métier e sua antítese, a noção de mercado. Métier sugere a idéia de saber, saber-fazer, de competência e, portanto, de possibilidades de organização social da transmissão do saber, de cooperação e de hierarquias no trabalho. Mercado sugere a confrontação entre oferta e procura, regulado por múltiplas racionalidades que expressam o preço. Assim concebidas essas duas noções definem dois universos estranhos um ao outro, sobretudo em profissões que mesclam e tensionam arte, técnica e mercado, assim como o fazer arquitetura. O paroxismo do mercado ameaça as possibilidades de autonomia na arquitetura enquanto expressão cultural intensificando as contradições que sempre marcaram o métier do arquiteto. A intrusão da "lógica comercial" antecede qualquer estágio da produção; constitui mesmo pré-condição do processo de produção do projeto arquitetônico o qual, desde os seus primórdios, se desenvolve tendo o mercado como referência. O reconhecimento da existência do mercado de trabalho do arquiteto implica também o reconhecimento de uma das dimensões presentes na produção do projeto arquitetônico: trata-se de mercadoria e, enquanto tal, é portadora das contradições inerentes ao mundo das mercadorias. Entre as contradições presentes no processo de produção dessa singular mercadoria (projeto arquitetônico) é possível destacar aquelas relacionadas ao mercado, como a competitividade, cada vez mais acirrada e intensa no contexto da globalização; as formas e importância que o marketing assume no trabalho do arquiteto; a compreensão por parte do profissional arquiteto de sua produção enquanto negócio, geradora de lucro e da apropriação do trabalho de outros profissionais e trabalhadores. A relação com o cliente está presente em todas essas dimensões; nas mais diversas formas, ora como mecenas, ora como usuário que o arquiteto tem a missão de educar, ora como usuário a ser atendido, respeitado, interpretado pelo profissional arquiteto, ora como consumidor necessário à realização do projeto. No presente momento, observa-se, com intensidade e freqüência jamais registrada anteriormente, a primazia do mercado e dos critérios econômicos, em detrimento das questões sociais e culturais. As formas de divulgação do trabalho do arquiteto, cada vez mais se apóiam em diferentes mídias - cartazes, placas, jornais e revistas especializadas ou de grande circulação, internet, etc. A dimensão mercadoria, presente no produto do trabalho do arquiteto - projeto do espaço construído - é reiterada e, enquanto tal, divulgada por meio de ações e estratégias de marketing. Para tanto, freqüentemente é minimizada a qualidade cultural do trabalho ou a dimensão arte e maximizada sua perfeita adequação ao consumidor, sua condição de gerar lucro para, dessa maneira, garantir uma fatia do mercado.

CONTEÚDO
História da profissão do arquiteto em diferentes contextos selecionados.
• A formação do arquiteto e a aquisição de valores profissionais.
• A profissionalização do arquiteto no Brasil e no mundo.
• A situação atual da profissão do arquiteto em diferentes contextos.
• A profissão do arquiteto e o mercado de trabalho.
• A profissão do arquiteto e o cliente/usuário.
• A profissão do arquiteto e a "lógica comercial" (competitividade, marketing, negócio).
• A autonomia do arquiteto em discussão.


BIBLIOGRAFIA
Bibliografia Básica:
BARRÉ, François e HAQUIN, Raphäel (orgs). Être architecte - présent et avenir d'une profession. Paris: Éditions de Patrimoine, 2000.
BOURDIEU, Pierre. Contrafogos 2: por um movimento social europeu. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.
________________. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 2004.
________________. A Distinção: crítica social do julgamento, Porto Alegre: Editora Zouk, 2007.
CALLEBAT, Louis (Org). Histoire de l'architecte. Paris: Flammarion, 1998.
CAMUS, Christophe. Lecture sociologique de l'architecture décrite - Comment bâtir avec des mots? Paris: L'Harmattan, 1996.
CHAMPY, Florent. Sociologie de l'architecture. Paris: Éditions La Découverte, 2001. CUFF, Dana. Architeture: The story of practice. Cambridge: MIT, 1991.
DURAND, J.C. Garcia. A profissão do arquiteto (estudo sociológico). Dissertação de mestrado, Guanabara: Crea, 1972.
FISCHER, Sylvia. Os arquitetos da Poli – Ensino e profissão em São Paulo. São Paulo: EDUSP, 2005.
GUADET, Julien. Le Code Guadet. In: EPRON,Jean Pierre. Architecture - une anthologie. Liège: Pierre Mardaga Éditeur, 1992.
JAQUES,Annie . La Carrière de l'architecte au XIX siècle. Paris: Éditions de la Réunion des Musées Nationaux, 1986.
KOPP, Anatole. L'architeture de la période stalinienne. Grenoble: Presses Universitaires de Grenoble. 1985.
KOSTOF, Spiro. The Architect. New York: Oxford University Press, 1977
LIMA, João Filgueiras. O que é ser arquiteto - memórias profissionais de Lelé. Depoimento a Cynara Menezes. Rio de Janeiro: Record, 2004.
MACEDO, Luis Ortiz. La historia del arquitecto mexicano – siglos XVI – XX. Mexico D.F.: Grupo Editorial Proyección de México, 2004
MONTLIBERT, Christian de. L'impossible autonomie de l'architecte - Sociologie de la production architecturale. Strasbourg / França: Presses Universitaires de Strasbourg, 1995.
RINGON, Gérard. Histoire du métier d'architecte en France. Paris: PUF- Presses Universitaires de France, 1997.
RODRIGUES, Maria de Lurdes. Sociologia das profissões. Oeiras/Portugal: Celta Editora, 1997.
TAPIE, Guy. Les architectes: mutations d'une profession. Paris: L'Harmattan, 2000.

Bibliografia complementar:
ARGAN, Giulio Carlo. L'Art Moderne. Paris: Bordas, 1992.
BOTTA, Mario. Ética do construir. Roma/Bari: Edições 70, 1996.
BOUDON, Philippe. Introduction à l’Architecturologie. Paris: Dunod, 1992
BOUDON, Philippe et Alli. Enseigner la conception architecturale / Cours d’architecturologie. Paris : Éditions de La Villette, 1994
DURAND, J.C. Garcia. Arte, privilégio e distinção - Artes plásticas, arquitetura e classe dirigente no Brasil - 1855/1985. São Paulo: Perspectiva/EDUSP, 1989.
EPRON, Jean-Pierre. L’architecture et la règle. Bruxelles : Pierre Madarga, 1981
KOPP, Anatole. Quando o moderno não era um estilo e sim uma causa. São Paulo: Nobel, 1990.
MONEO, Rafael. Inquietação teórica e estratégia projetual. São Paulo: Cosac Naify.2008
THOMPSON, E.P. Tradición, Revuelta y Conciencia de Clase. Barcelona: Critica, 1979.
TRÉTIACK, Philippe. Faut-il pendre les architectes? Paris: Éditions du Seuil, 2001.
VIOLEAU, Jean-Louis (Org). Quel enseignement pour l'architecture? - Continuités et ouvertures. Paris: Éditions Recherches - École D'Architecture Paris-Belleville,1999.

Nenhum comentário:

Postar um comentário